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Morreu o empresário Pedro Queiroz Pereira

Pedro Queiroz Pereira, que morreu esta madrugada aos 69 anos, é um nome incontornável na economia portuguesa do pós-25 de abril. Quando a revolução acontece, o então jovem Queiroz Pereira era mais conhecido como PêQuêPÊ – ou PQP, as iniciais do seu nome – nome conquistado ao volante dos carros, paixão que o levou a ser piloto de competição antes de assumir a sua vocação industrial e construir um dos maiores grupos empresariais do país.

Foi aluno do Colégio Militar e posteriormente frequentou o Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa. No pós-25 de abril, a família, muda-se para o Brasil onde viveu entre 1975 e 1987. No Brasil continua ao volante, tendo inclusive chegado a participar de provas de competição de Fórmula 2 com Ayrton Senna de quem ficaria amigo.

Assume a liderança dos negócios da família perto dos 40 anos na sequência da morte do pai e do irmão mais velho. Da história da família Queiroz Pereira, cujos interesses se repartiram desde cedo por várias áreas do imobiliário à indústria e à banca, há episódios que ilustram bem o ascendente que teve na sociedade portuguesa: Manuel Queiroz Pereira, o pai, foi por exemplo um dos dez empresários desafiados por Salazar a construírem o primeiro hotel de luxo em Lisboa, o Hotel Ritz de que Pedro também viria mais tarde a ser parte da administração.

Nos anos 90 as privatizações mudam a face da economia portuguesa e Pedro Queiroz Pereira, já à frente dos destinos dos negócios da família, lança os alicerces do que é hoje o grupo ao comprar a Portucel e a Secil. Todavia, seria a disputa da Cimpor que faria correr rios de tinta e que estaria na génese da sua rutura com Ricardo Salgado, a quem chegou a acusar de traição, e com o grupo Espírito Santo com quem teve durante anos uma ligação histórica. Na notícia sobre a sua morte, o Expresso lembra – e bem – que “a guerra com Salgado foi determinante para o colapso do Grupo Espírito Santo”.

A novela pela disputa da Cimpor foi longa mas é difícil falar do percurso empresarial de Queiroz Pereira sem a contar.  Começou em julho de 2000, quando lançou uma OPA (oferta pública de aquisição) hostil sobre a cimenteira numa operação cara  que custava 550 milhões de contos (mais de 2500 milhões de euros). Sabia desde o início que era uma compra arriscada pela dimensão da empresa a comprar que a tornava um alvo mais fácil e até mais lógico para um grande grupo internacional do que para outra empresa portuguesa.  Tentou, ainda assim, controlar a Cimpor, associando-se aos suíços da Holcim, com quem iria repatir a empresa, separando a operação internacional. “Temos muita pena de dividir a Cimpor, mas se não me antecipasse haveria uma OPA de uma empresa estrangeira”, disse na altura. A proposta aparentemente bem recebida pelo governo socialista da altura acabou chumbada pelo ministro das Finanças e da Economia – então reunidas na mesma tutela – Pina Moura e Queiroz Pereira acabou por perder para o bloco Teixeira Duarte, BCP e Lafarge – num concurso polémico em que o Estado entregou os últimos 10% do capital do Estado à Teixeira Duarte, apoiada pelo BCP, e única concorrente. Perdeu mas demorou anos até desistir mantendo a disputa quer via participação accionista quer através dos tribunais.

No perfil traçado em maio deste ano pelo Jornal de Negócios, é descrito como “o grande industrial português”. Só a Navigator, recordava o jornal, investiu nos últimos 15 anos mais de 1,3 mil milhões de euros em Portugal. “Costuma dizer aos mais próximos que com o dinheiro que ganha podia comprar um palácio no sul de França. Mas Pedro Queiroz Pereira não gosta de palácios nem do sul de França. Prefere investir e inaugurar novas fábricas. E é o que tem feito, quase a uma média de uma por ano”.

Acionista maioritário do grupo Semapa, proprietário da Navigator, da cimenteira Secil e de negócios na área do ambiente e da energia, Pedro Queiroz Pereira era, segundo o ranking da  Revista Exame,  o 7º mais rico de Portugal, detentor de uma fortuna avaliada em 779 milhões de euros (em conjunto com a mãe).

Em 2014 ficou viúvo e caberá agora às filhas a gestão do património e dos negócios da família.

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