De que está à procura ?

Colunistas

Mistérios que não posso explicar

Se me concedessem cinco minutinhos antes de morrer, para falar de tudo o que fiz e não devia de ter feito, e tudo o que não fiz e queria fazer, diria logo que os cinco minutinhos não chegavam, que precisava de muito mais tempo, que não tinha.

Mas, na impossibilidade de ter esse tempo já gasto, se me perguntassem quais foram os momentos em que fui genuinamente feliz, eu diria logo, – Quando tinha cerca treze anos de idade e frequentei o segundo ano do ciclo preparatório, na turma do 2˚F. O P2F, como o Mário Adão assim nos batizou a todos.

E todos, sem exceção, rapazes e raparigas desse segundo ano do ciclo preparatório, da turma do P2F, fazem parte desses meus momentos de verdadeira felicidade, bem como todos os professores e professoras que nos ensinaram e que não tiveram tarefa nada fácil. Éramos danados pra brincadeira.

Todos fazem parte dessa felicidade, desse tempo mágico. A rapariga que anos mais tarde comigo iniciou uma jornada que já vai com mais de vinte e oito anos, os amigos que depois desse ano não mais tornei a ver, outros que só vi esporadicamente, e o resistente que a distância que nos separa não é suficiente para que deixemos de comunicar. Foi esse resistente que me enviou para aqui, terras de sua Majestade, a noticia sobre um desses rapazes que cruzou a minha vida, no ano em que fui genuinamente feliz. A noticia dada pelo amigo Mário Adão, acerca da morte prematura do Paulo Cardoso, deixou-me triste e levou-me ao passado, recordando momentos em que juntos soubemos ser felizes. Todos.

Por isso, dedico estas palavras ao amigo Paulo Cardoso, o Paulo pequenino, como lhe chamávamos nessa altura, e isto só porque, na turma havia um outro Paulo, que era mais alto do que ele. De facto, com treze anos de idade, nessa altura, éramos todos pequeninos.

Paulo…
Pergunto-me, qual o significado da vida,
que fazemos cá, pelo mundo,
porque tem de ser assim!?
Temos a entrada, depois a saída
momentos de alegria, sofrimento profundo,
temos o princípio, temos o fim

São mistérios que não posso explicar
desígnios que não consigo entender
a vida é uma película a passar
com um fim que se não pode prever

Ficam, no entanto, as vivências
as recordações e as memórias
os bons e os maus momentos
as experiências,
as histórias
a semente largada nos ventos

Ficam as alegrias
as tristezas
as criancices, as manias
as miudezas
os sonhos de juventude
os projetos que se perderam no caminho
a incerteza de que a vida mude,
que esteja errado o pergaminho.
Ficam os momentos
as ideias e os projetos
as certezas de outros tempos,
quando pensávamos estar sempre certos.
Ficam essas memórias quase perdidas
onde neste nosso trajeto
se cruzaram as nossas vidas
quando o longe era tão perto

E depois, há um momento
nesta longa caminhada
em que durante a nossa vida
quase nos perdemos no tempo,
e chegados ao fim da estrada,
vamo-nos encontrar já depois da saída.

Pergunto-me qual o significado da vida
porque há coisas que não posso entender,
entre a entrada e a saída
há viver e depois morrer.

Depositarei a minha confiança
que depois de tal sorte
seja realidade esta esperança
de que nos encontraremos, para além da morte.

Até lá, meu amigo
tudo o que me apraz
do pouco que consigo,
é dizer-te que descanses em paz.

(dedicado ao amigo do segundo ano do ciclo preparatório, Paulo Cardoso)
António Magalhães

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA