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Memórias intergeracionais entre pai e filha: Bordéus

Filha:

Era noite de passagem de ano. Estávamos os quatro – pai António 60 anos, mãe Amélia 60 anos, filha Marta 30 anos e filho António 27 anos – desde o dia 26 de Dezembro num fantástico apartamento no centro de Bordéus.

Era o meu presente de Natal para os meus pais e irmão. A ideia era de forma low cost proporcionar passarmos uma semana juntos, pois naquela altura eu vivia em Lisboa e eles no Porto.

Eu ainda era solteira, aliás tinha conhecido há precisamente uma semana o António que sete meses depois viria a ser o meu marido.

Bem, voltando a Bordéus. Tinha reservado pelo booking, mas nunca pensei que o apartamento fosse tão bom. Amplo, bonito, muito bem localizado e com serviços de ginásio e sauna incluídos. E a um preço excelente!

Na noite de passagem de ano, temos sempre a tradição de nos vestirmos a rigor. O plano era fazermos um bom jantar no apartamento e depois ir passar a meia noite à rua. Pensávamos nós que houvesse fogo de artifício e muita gente.

Qual desilusão. Esperámos e esperámos e nada, nenhum sinal de festa.

Então resolvemos voltar para o apartamento. E que bela decisão. Abrimos uma garrafa de champanhe, comemos cada um doze passas e começámos a jogar ao stop, aquele jogo em que consoante a letra do abecedário cada um tem de escrever um nome próprio, um animal, um objecto, um país, etc começado por essa letra. E quem terminar primeiro diz stop.

No meio da excitação diz a minha mãe: stop! A letra era M. E começa a dizer: nome próprio – Marta, um animal – Bananas. Bananas?!?! Ahahahaha Risota geral. A minha mãe queria dizer Macaco, mas com a pressa e excitação escreveu o fruto preferido dos macaquinhos!

Foi talvez a passagem de ano mais simples da nossa vida, mas uma que para mim enquanto filha teve mais significado. Um jogo de papel e lápis em família.

Pai:

Estávamos no Natal de 2010 e planeamos mais uma viagem de fim de ano entre pais e filhos: Pai António, Mãe Amélia, filhos Marta e António. Desta vez destino Bordéus-França.

Dia 25 de Dezembro lá embarcamos no renovado aeroporto Francisco Sá Carneiro – Porto.

Bem chegados a Bordéus, embarcamos no metro para o centro da cidade para desfrutarmos de uma semana de vacances com núcleo familiar. Fazíamos isto todos os anos. Era fantástico. Aconselho aos mais novos, a praticarem.

Assim chegados ao local escolhido pela filha Marta, ficamos todos agradados pela opção do hostal. Apartamento enorme sala com capacidade de transformação para quatro quartos e com cozinha bem equipada para criarmos a nossa boa gastronomia portuguesa, com um toque francês. Ficámos muito bem instalados.

O patriarca logo se apressou em procurar um supermercado para abastecer o frigorífico + arca, bem como uns néctares quer de Bordéus quer de Saint Emilion brancos e tintos. Assim como champanhe.

E descobrimos um tipo de vinho de colheita tardia. Uvas colhidas em Dezembro. Muito maduras. Que se transformam num néctar muito raro e bom, cor de ouro. Vai bem para acompanhar entradas de paté e sobremesas doces.

A cidade é servida de um transporte moderno e rápido: o metro. Então, como têm quatro linhas, fomos conhecer toda a cidade viajando neste simpático e prático transporte.

No dia 27 de Dezembro fomos à estação de Saint-Jean apanhar o comboio regional para a zona dos chateaus. Fica a uma distância de cerca de 80 km.

Ali chegados, tivemos que percorrer cerca de 10 km. A pé sempre em subida muito íngreme. Mas como íamos na direcção da festa, nada custa.

Assim que atingimos o cume da subida, chegámos à vila medieval entre muralhas e lá fomos visitando os chateaus aqui, prova de tinto ali, prova de branco e champanhe acolá.

Tivemos que entrar no café central para comer um tira álcool (tipo tira gostos). A grande curiosidade é que eu já era marinheiro de terceira viagem sabia que este local, ao lado da igreja Saint-Nicolai, é precisamente onde foram rodados todos os episódios da grande série de televisão Alô Alô do conhecido René Artois e Yvette bem como dos pilotos de aviação e agentes secretos Britânicos (crítica aos Alemães aquando da ocupação nazi a França). Esta série tão divertida foi escrita e criada em território Português (Algarve) e com ajuda de um Português de Lisboa.

Ao lado, fomos visitar a Igreja de Saint-Nicolai, onde os vinicultores escondiam dos Alemães as suas melhores colheitas enterrando as garrafas. Esta Igreja seria destruída com bombardeamentos em 1943. Mais tarde reconstruida felizmente.

Depois fomos visitar o museu do vinho e da vinha em Saint Emilion, com vinhos fantásticos, onde os Japoneses e Chinos pagavam 600 a 2.000,00 euros por botelha.

Dia 31 partimos para mais uma aventura. Fomos pela manhã cedo. Estava a chuviscar e muito frio, em direcção à estação de comboios Saint-Jane – Bordéus. Com intenção de embarcar para Biarritz com a ideia de degustar na capital das ostras Francesas. Mas constatamos que só de TGV.

Como a Matriarca tem medo de grandes velocidades, logo arranjámos uma alternativa mais dentro dos padrões de velocidade aceitáveis. Então fomos de autocarro viajar para Arcachão. Ficava a cerca de 60 km, onde nos esperavam três monumentos importantes: as maiores dunas da Europa – dunas pilat, o cabo – cap-ferret (com uma marina gigantesca de barcos quer de recreio quer de pesca) e praias com bunkers de chapa de aço e betão armado que serviram de abrigo às forças militares dos aliados aquando do desembarque do dia D em 1945, com maior destaque por todo o Norte (Lombardia) e por toda a França.  Só assim, pelo efeito surpresa, foi possível a enorme vitória sobre os nazis e acabar com o grande sofrimento dos povos do mundo.

Assim acabámos por degustar as ditas ostras nestas paragens de Arcachão que nos transmitiu uma tão grande energia que acabámos por caminhar a pé cerca metade do caminho entre Arcachão e o centro de Bordéus.

Quando chegámos ao hostal precisámos de dar uma descansada. Por volta das 22h lá vestimos as nossas melhores fatiotas para o Reveillon e lá fomos para a praça maior da Europa: praça Quinconces, no centro da cidade de Bordéus com botelha de champahe e quatro glasses.

Esperámos pelo fogo de artifício na hora francesa e nada. Esperámos pela hora dos imigras e nada. Bom, tivemos que fazer nós a festa. Mas valeu. Foi muito divertida.

Nota

Filha: Marta Gonçalves em solteira, agora Marta Pimenta de Brito.

Pai: António Gonçalves, fundador nos anos 80 da Agência de Publicidade Cineponto que veio a ser adquirida pela americana Leo Burnett.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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