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Marcelo pinta panorama do jornalismo português em tons escuros

O Presidente da República pintou, esta quinta-feira, com “cores escuras” o panorama do jornalismo português, considerando que se agravou desde há um ano, com jornais a fecharem ou em “agruras para sobreviver” e mais jornalistas despedidos.

Marcelo Rebelo de Sousa falava na cerimónia de entrega dos Prémios Gazeta, realizada num hotel em Lisboa, durante a qual ouviu um dos premiados, o fotógrafo catalão Enric Vives-Rubio, agora no desemprego, relatar que saiu do jornal Público “sem direito a nenhum tipo de indemnização, nem agradecimento”, após onze anos a trabalhar a recibos verdes.

O chefe de Estado, que em 2016 tinha alertado para a “situação económica e financeira particularmente difícil no mundo dos meios de comunicação clássicos”, afirmou hoje querer “adensar as cores escuras” com que pintou há um ano o panorama nacional deste setor.

“Saímos da crise das finanças públicas, ou estamos a sair, crescemos mais do que esperávamos, o emprego aumentou, mas mais alguns jornais morreram, ou sofreram agruras para sobreviver, jornalistas foram despedidos, as tiragens mirraram até valores inimagináveis, as rádios conheceram limitações enormes na sua viabilidade quotidiana, as televisões, elas próprias, enfrentam desafios muito complexos”, descreveu.

Marcelo Rebelo de Sousa agradeceu a todos os que, “heroicamente, porque o heroísmo também se faz com a pena, a palavra e a imagem, teimam em manter viva e prestigiada a liberdade de imprensa em dias de aperto ou mesmo de sufoco”.

“A imprevisibilidade continua a atingir a vida de número elevado dos que persistem em afirmar o direito constitucional a informar”, lamentou o Presidente da República, defendendo que “importa prosseguir a luta” porque “sem informação o forte não há democracia forte”.

Numa curta intervenção, de cerca de cinco minutos, o chefe de Estado lamentou também o atraso na eleição dos novos titulares da ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social, devido à “ausência de consensos substanciais, primeiro, e expressos em votos, depois”, numa alusão à votação de outubro em que os candidatos não obtiveram os dois terços necessários.

Nesta cerimónia foram entregues os Prémios Gazeta 2016 a Enric Vives-Rubio, (Fotografia), a Teresa Abecasis e João Carlos Malta, da Rádio Renascença (Multimédia), a Isabel Meira, da TSF (Rádio), a Luciana Leiderfarb, do Expresso (Imprensa) e a Margarida Metello (Televisão).

José Quitério, que foi crítico gastronómico no Expresso durante quase 40 anos, recebeu o Prémio Gazeta de Mérito, atribuído pelo Clube de Jornalistas, com o patrocínio do banco Santander Totta.

No seu discurso de agradecimento, o ex-jornalista do Público Enric Vives-Rubio, que vestia uma t-shirt com a palavra “democracia”, começou por cumprimentar o Presidente da República em catalão, afirmando ser a língua do seu país.

“Recebo este prémio desde o desemprego. Em julho deste ano, o jornal Público dispensou os meus serviços por estar a lutar pelos meus direitos laborais. Desde 2005, o que dá onze anos, estive a recibos verdes, uma situação laboral precária”, relatou, em seguida.

Enric Vives-Rubio acrescentou que saiu do jornal “da maneira mais desagradável possível e sem direito a nenhum tipo de indemnização, nem agradecimento pelos anos compartilhados”, ou seja, “com uma mão à frente e a outra atrás”.

“Infelizmente, esta minha situação não é a única. O fotojornalismo em Portugal sofre de muita precariedade laboral”, salientou, referindo que outros fotógrafos anteriores vencedores do Prémio Gazeta ficaram desempregados.

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