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Já não somos os Josés e as Marias da vida

Ao fazermos uma pesquisa rápida na internet, o significado da palavra saudade é de uma “lembrança grata de pessoa ausente, de um momento passado”, in Dicionário Priberam da Língua). De facto, é sobre esta lembrança, seja ela de pessoas, seja ela de momentos a que me refiro. Neste momento, esta é a palavra que mais paira sobre a minha cabeça.

Tudo começa às 10 da manhã, numa sexta-feira normal, como todas as outras, em Lisboa. Autocarros chegam e saem à uma velocidade alucinante: pessoas ora saem dele, ora entram. É assim a vida nas grandes cidades. Neste mesmo dia, eu, juntamente com outros portugueses, entrámos num autocarro com destino à Paris. Dele não saímos antes de uma longas 20 horas de jornada – a partir do momento em que entramos nele, esta mesma sexta-feira deixou de ser normal – tudo muda a partir daqui. “Tenham uma boa viagem, camaradas, diz o motorista para os seus passageiros”. A viagem inicia-se.

Ao longo destas intermináveis horas de percurso, pude conhecer histórias, pessoas, ao mesmo tempo em que também pude partilhar ideias da minha vida com algumas das personagens presentes nesta viagem. Foram momentos nos quais a troca de experiências fez-me concluir que não interessa o grau de literacia que tenhamos e, sim, o objetivo que é comum a todos nós: deixar o nome de Portugal além-fronteiras.

Logo nos primeiros minutos desta longa jornada, conheci o senhor João Alberto, um português de 65 anos. Morava em Paris há já quase 40 anos. Natural de Viseu, já construiu uma vida sólida, seja a nível económico, seja a nível pessoal, no país da Torre Eiffel. Com uma empresa de construção sediada nos arredores de Paris, já empregou mais de 100 trabalhadores, de distintas nacionalidades, ao longo da sua existência. Hoje em dia, já reformado, passa a sua vida entre Portugal e França. “Sou 50% português, 50% francês. É esta a minha vida”, afirma.

A viagem prossegue. Crianças choram; mulheres e homens dormem; a vida passa. Como jornalista, tento ouvir as conversas que me vem chegando por parte de quem as conta. O segredo é assimilar cada sílaba, cada palavra, cada frase. No fim o que fica são histórias de batalhas vencidas à base de muito suor e sacrifício.

As horas passam. A certeza de que estamos mais perto do destino é cada vez mais iminente. A ficha começa a cair. Para trás, deixo família, amigos e, sobretudo, uma saudade inabalável: um sentimento comum, seja para os que ficam, seja para os que vão. É uma palavra cujo significado começa a ganhar cada vez mais sentido.

Passados 21 horas de viagem, chegamos ao local pretendido. Dona Maria de Fátima, outra personagem desta história, ignora os estereótipos dados aos portugueses em terra francófona: “Já não somos os «Josés» e as «Marias» da vida, como somos conhecidos. Somos portugueses. Somos aquilo que queremos ser”.

Quanto a mim, ainda não acabei de escrever esta minha história. Tudo está prestes a começar – um futuro brilhante se adivinha – assim o espero.

Até já, Portugal!

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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