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Histórias de emigração

Sentada no banco em frente ao mesmo sitio onde alguns anos havia chegado , de mãos vazias, a  medo, a coragem na bagagem e uma mão cheia de sonhos.

Os sonhos haveriam de invernar tantas vezes dentro de si, aquietados num colo de esperanças , nos longos Invernos que desfilariam entre os dedos.

Era tarde,o tempo frio cortava-lhe a respiração, o vento assobia-lhe aos ouvidos uma canção nostálgica e fria.

Já tinham passado tantos anos desde aquela tarde, contudo, guardava no coração as marcas da saudade, a nostalgia dos dias de alegria e de luz, nos olhos a cor do mar, na boca o sabor a maresia.

Levou anos a entender o significado das coisas, a descodificar os enigmas de um destino desviado da rota. A aceitar o aprendizado do caminho.

Era ainda jovem, tinha tanto para aprender, tanto mundos para conhecer. A mudança parecia tão fácil, tão simples, mas não fora…

O desiquilíbrio dos primeiros anos, a perda de referências, a dor, sempre aquela dor miudinha agarrada ao peito, como roupas molhadas, que se colam à pele, e deixam marcas de chuva tatuadas no interior do corpo, tudo isso haveria de a acompanhar, de dia, de noite, na passagem das estações, nos longos invernos, frios e cinzentos.

Haveria de se esconder tantas vezes no seu pequeno mundo interior, enrolar-se numa concha só, apenas só… para se ouvir, para se encontrar, para entender o mundo, e o que o mundo esperava dela.

O amor surgiu naturalmente , devagar, como o primeiros raios de sol que despontam na primavera e aquecem o corpo, e  ali instalar-se. Os filhos nasceriam, pequenas flores a inundar a alma e casa de uma alegria maior.

Já não tinha medo, a dor miudinha continuava instalada no seu peito, o vazio de alguma coisa que tinha sido e que nada podia preencher, mas os filhos, os filhos vieram ocupar um lugar inabitado, um lugar de luz e de esperança.

Sentada naquele banco,  a sentir o mesmo frio, a olhar os mesmos prédios, a sentir o mesmo inverno, já não tinha medo do dia de amanhã.

Tinha enterrado sementes na terra, consulidado amizades ,sentia-se muitas vezes só, porque essa era a sua natureza de mulher solitária, procurava-a, precisava dessa solidão como a água que bebia todas as manhãs, mas já não trazia os vazios e a saudade no brilho do olhar.

Era como uma ave que parte e regressa  renovada a cada nova estação.

São Gonçalves, in “Histórias de emigração”
Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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