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Guitarras elétricas construídas nos Açores com madeira de espécie endémica

Valter Rocha é um dos poucos construtores de guitarras elétricas em Portugal, mas para além das madeiras comuns, utiliza cedro do mato, uma espécie endémica dos Açores, e acredita que as “Rocha” podem ser exportadas como um produto açoriano.

“Não pretendo ser um grande exportador, uma grande marca. Seria uma marca pequena, mas com qualidade. Para os Açores seria uma mais-valia”, salientou, em declarações à Lusa.

Da pequena carpintaria na freguesia do Porto Judeu, na ilha Terceira, já saiu uma guitarra para o Canadá e Valter tem neste momento em mãos uma encomenda para uma portuguesa que vive na Alemanha, mas as guitarras que assina com o próprio nome são ainda pouco conhecidas.

“Só me falta a divulgação e o ‘marketing’. A partir do momento em que a guitarra tenha bons materiais, é uma guitarra ao nível das melhores”, salientou, explicando que utiliza madeiras antigas desde o mogno, mais comum, à roseira e ao cedro do mato, árvore endémica dos Açores.

Na carpintaria que herdou do pai e dos tios, tem madeiras com mais de 50 anos, dos tempos em que os móveis utilizados pela população da ilha não eram ainda importados e o espaço se enchia de carpinteiros e encomendas.

Segundo Valter Rocha, quanto mais antiga for a madeira, melhor som terá a guitarra, por isso, quando encontra material com potencial já o vai colocando de parte para futuras encomendas.

“O veio tem muita importância na resistência do braço, na qualidade do som. Nas fábricas, é tudo pintadinho, muito bonito, e serve para vender, mas mais tarde começam a aparecer problemas”, salientou.

Guitarrista desde adolescente, o açoriano decidiu começar a fazer a sua própria guitarra elétrica quando descobriu que era possível adquirir os materiais necessários na internet.

“Eu procurava uns captadores de som e encontrei um ‘site’ em que tinha tudo. Tinha peças, captadores, pontes, botões, até inclusivamente madeiras se eu quisesse e ferramentas próprias com as medidas certas”, contou.

Valter aprendeu a tocar guitarra quando tinha 14 ou 15 anos e desde então tem passado por várias bandas na ilha Terceira, por isso, já conhecia bem o instrumento.

Depois de adquirir os materiais e as ferramentas necessárias e de muitas horas de pesquisa em revistas e páginas de internet, começou a tirar medidas às suas guitarras e a desenhar modelos para construir uma de raiz, apenas por curiosidade.

Durante um ano, “nas horas vagas” entre os trabalhos de carpintaria, foi aperfeiçoando a guitarra, ainda que pouco confiante no resultado.

“No fim, para meu espanto, ela estava a trabalhar e a tocar como as outras. Tenho várias guitarras de marca e esta é a que eu prefiro”, adiantou.

Atualmente, Valter Rocha faz guitarras elétricas e baixos por encomenda, para além de manutenções e consertos, e alega que as Rocha têm a mesma qualidade do que as guitarras de grandes marcas norte-americanas.

“Já alguns artistas tocaram com elas. Eles experimentaram antes do concerto e tocaram com elas. Se achassem que não eram boas, não tocavam nos concertos”, frisou.

Tiago Pais Dias, dos Amor Electro, e Rui Veloso foram alguns dos músicos portugueses que já experimentaram a guitarra elétrica do açoriano.

Valter guarda na memória o concerto em que Rui Veloso utilizou a sua Rocha: “Antes de tocar a música Chico Fininho, ele apresentou a guitarra feita cá na ilha Terceira e tocou com ela. Improvisou bastante, prolongou a música e explorou bem a guitarra”.

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