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A geração dos Sem Tempo, ou a fábula do carro que anda sem combustível

Por obra de diversos fatores, como, por exemplo, a crise económica, a obrigatoriedade de acumularmos trabalhos, a sede de dinheiro ou a ambição materialista, podemos dizer que hoje vivemos uma vida sem tempo para nada. Frequentemente ouvimos as pessoas a dizer que não têm tempo para os seus filhos, nem sequer para si. Vivem entaladas numa vida, que se passa sem darem conta, entre afazeres sociais e profissionais. Dizem que é a sua vida, mas não é. É a vida de alguém ou de algo, mas não a deles.

Desde que me conheço, sempre tive dificuldade de perceber esta filosofia de existência. Entendo que temos de merecer o nosso pão, aceito que temos um papel na sociedade. O que não posso aceitar é que essa parte se transforme no todo. É impensável que o que nasceu para ser um meio, se transforme, ele próprio, no seu fim. Alguém dizia que o trabalho ou até o próprio dinheiro são bons servos, mas são péssimos mestres e eu não poderia estar mais de acordo.

O que defendo, então, é uma vida equilibrada, em que não deixem de existir momentos para estarmos com nós mesmos, em que paremos para pensar como foi o nosso dia, como vai a nossa vida, o quão felizes nos estamos a sentir. É fundamental, para a nossa integridade, que encontremos um momento em todos os nossos dias, para fazermos algo que gostamos de fazer, que nos realiza, que nos preenche, pois são essas pequenas ações, a que chamamos injustamente e de forma pejorativa passatempos, que nos vão dar alento e força para continuarmos a por o melhor de nós em tudo o que fazemos. Assim, na minha opinião, estas duas vertentes são fundamentais para ter uma vida saudável e sustentável, termos diariamente tempo para nós, para pararmos um pouco e refletirmos e para fazermos algo de que realmente gostamos.

Para os que se vão, eventualmente, defender, argumentando que não têm tempo, não porque não querem, mas porque não podem, porque os seus deveres não o permitem, eu respondo com uma metáfora que encontrei num livro que ando a ler. Podemos comparar uma pessoa que não tem tempo para si, para recarregar as suas energias, parando um pouco e fazendo algo que gosta a um potente carro. Este tem tudo o que é preciso para ter sucesso nas suas funções, um bom motor, cavalagem suficiente, uma suspensão segura. No entanto, se quem o conduz não parar, de vez em quando para lhe meter combustível, todas essas caraterísticas de excelência não adiantarão de nada, uma vez que sem combustível, ele vai deixar de funcionar.

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