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“Gabriela”: a novela que revolucionou a TV portuguesa faz 40 anos

“Eu nasci assim, eu cresci assim e sou mesmo assim. Vou ser sempre assim: Gabriela, sempre Gabriela”. Era desta forma, na voz de Gal Costa, que começavam os episódios de “Gabriela, Cravo e Canela”, a primeira telenovela brasileira a ser emitida em Portugal. A estreia desta produção baseada no romance de Jorge Amado, aconteceu há 40 anos, mais precisamente a 16 de maio de 1977, no único canal de televisão de então, a RTP.

Logo após a estreia, a telenovela, ainda era a preto e branco, arrebatou o coração dos portugueses de uma forma nunca antes vista. Três anos após nos termos libertado de um regime ditatorial, o país ficou preso à caixa mágica para assistir à famosa história, protagonizada por Sónia Braga (Gabriela) e Armando Bogus (Seu Nacib). E, assim, um novo hábito foi instaurado, que prossegue enraizado na sociedade portuguesa: o de assistir a telenovelas, continuando a manter-se com um dos produtos mais consumidos da televisão.

Gabriela, era uma simples moça do sertão baiano que fora para Ilhéus, uma terra dominada por poderosos fazendeiros de cacau, para fugir da seca do Nordeste. Sofrida, porém muito alegre, seduzia com naturalidade os homens. Acabou por se apaixonar por um estrangeiro que não aceitava da melhor forma o seu comportamento, ora ingénuo, ora loucamente sensual. Gabriela era uma morena ousada, que andava descalça e com vestidos extremamente curtos, mas sempre muito trabalhadora e dedicada. Esta era a base da história, passada em 1925, que se tornou um êxito num país que ainda se estava a adaptar aos primeiros tempos de liberdade e que começou a parar à hora de jantar para seguir o enredo. Portugal parava, literalmente, para poder ver “Gabriela”. Um fenómeno televisivo e social sem precedentes. Em casa, as famílias reuniam-se na sala. E quem não tinha televisão, juntava-se nos cafés para não perder um episódio da trama. A popularidade foi tal que chegou a estender-se até à Assembleia da República, onde o trabalho chegava mesmo a ser interrompido ou adiado.

Para uma audiência que estava habituada a assistir a minisséries europeias, como a “Família Belamy”, ou a teatro para televisão, a oportunidade de acompanhar diariamente uma história filmada num país tropical, que falava a mesma língua, mas com sotaque mais doce, cheia de sensualidade, funcionava como uma lufada de ar fresco.

“Gabriela” teve não só o poder de alterar os nossos hábitos, como também de ser transversal a estratos sociais e faixas etárias. No final da década de 1970, esta novela da Globo passou a funcionar como elo de união, de conversas e também de mimetismo. O corte de cabelo da personagem Malvina (Elizabeth Savalla), por exemplo, tornou-se tendência, tendo sido adotado por várias mulheres. O próprio papel da mulher na sociedade portuguesa acabou, também, por sofrer algumas mudanças… De facto, o sucesso reflectiu-se em novas formas de comportamento e de relacionamento social por mostrar aquilo que, normalmente, não era visto em televisão e acabou por ditar modas, desde os penteados à escolha dos nomes próprios e da linguagem usada. E causou algum rebuliço junto do universo masculino. A novela apresentara aos portugueses a actriz Sónia Braga, que se tornou todo um sex symbol.

Para Sónia Braga, foi uma estreia, tendo sido escolhida depois vários de testes com outras atrizes. Sónia acabou por imortalizar a personagem na TV e no cinema, no filme de 1983. Mesmo sendo a protagonista da novela, o seu nome só era creditado em quarto lugar no genérico de abertura, depois de Paulo Gracindo (Coronel Ramiro Bastos), Armando Bógus e José Wilker (Mundinho Falcão). Elizabeth Savalla também se estreou na novela, e foi igualmente um dos destaques da trama na pele da rebelde Malvina, tendo o prémio de actriz revelação do ano. A história da personagem foi usada para mostrar a luta das mulheres contra o jugo familiar. Malvina enfrentava toda a família em nome do verdadeiro amor, e tinha atitudes muito avançadas para época. No elenco vale ainda destacar papeis memoráveis e interpretações inesquecíveis de Fúlvio Stefanini (Tonico Bastos), Nívea Maria (Jerusa); Eloisa Mafalda (Ana Machadão) e Dina Sfat (Zarolha) entre outros.

“Gabriela” foi a primeira novela com apelo sensual como fio condutor. Durante os seis meses em que foi exibida em Portugal, a telenovela foi seguida por uma impressionante média diária de quatro milhões de espectadores.

Anos mais tarde, em 2012, chegou a Portugal o remake da novela, assinado por Walcyr Carrasco e protagonizado por Juliana Paes, em vez de Sónia Braga, e Humberto Martins, na pele de Armando Bógus. Para celebrar o 40.º aniversário de “Gabriela”, o canal Globo está a emitir esta nova versão, de segunda a sexta-feira, às 23h.

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