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Escola de Differdange: portugueses não escolhem a sua própria língua?

O português é uma das línguas opcionais na Escola Internacional de Differdange, um estabelecimento de ensino público no Luxemburgo que vai abrir portas em setembro, mas nenhum dos alunos portugueses inscritos no primário escolheu o idioma.

“Os pais disseram-nos que preferem que os filhos aprendam línguas mais úteis no mercado de trabalho no Luxemburgo”, como “o francês e o inglês”, disse à Lusa Gérard Zens, um dos responsáveis da escola.

Inspirada nas escolas europeias, a escola primária e secundária vai ter duas secções linguísticas, uma francófona e outra anglófona, podendo os alunos optar por uma segunda língua desde o primeiro ano de escolaridade, entre o francês, alemão, inglês e português.

Esta é a primeira vez que a língua portuguesa integra o programa do ensino público no Luxemburgo, mas por falta de interesse dos emigrantes, a escola vai abrir este ano sem professor de português para as crianças do ensino primário, onde estão inscritos apenas quatro portugueses.

Em contrapartida, no secundário há 12 alunos que optaram pelo português como primeira língua opcional, ensinada “como língua materna”.

“São alunos que chegaram há pouco tempo ao Luxemburgo, que já fizeram uma parte dos estudos em Portugal, e que preferem continuar a ter português”, explicou o responsável da escola.

Cinco alunos no secundário escolheram também português como terceira língua de opção, ensinada como língua estrangeira, segundo a mesma fonte.

Os portugueses são a segunda nacionalidade mais representada na nova escola, com 25 alunos entre os 110 inscritos, representando também cerca de 25% dos estudantes em todos os níveis de ensino no país.

O novo estabelecimento de ensino foi anunciado como uma oportunidade para as crianças portuguesas com dificuldades no ensino público luxemburguês, onde a alfabetização se faz em alemão.

De acordo com o projeto de criação da escola, “é da responsabilidade do Estado [luxemburguês] propor um sistema educativo público em que cada aluno tenha hipótese de sucesso, independentemente da língua falada em casa”, num “esforço para integrar os alunos estrangeiros”.

Para Joaquim Prazeres, responsável do Instituto Camões e da Coordenação de Ensino de Português no Luxemburgo, “é uma oportunidade perdida” para os emigrantes, considerando que na base do problema pode estar “a falta de informação” dos pais.

“Há pais que acham que o facto de falarem português em casa com os filhos já é suficiente”, lamenta, apontando estudos que indicam a importância de reforçar a língua materna para aprender outras línguas.

As dificuldades agravam-se por causa do “empobrecimento do vocabulário dos alunos, por falta de diálogo em casa entre pais e filhos, que depois tem consequências na escola”, defendeu.

O défice de vocabulário dos emigrantes na língua materna levou mesmo a Universidade do Luxemburgo a iniciar um projeto para reforçar a aprendizagem do português a partir do ensino precoce, que arrancou em 2014.

Um estudo anterior realizado com alunos portugueses pela Universidade do Luxemburgo e pela Universidade do Minho confirmava que as crianças bilingues têm mais facilidade para se concentrar que as crianças monolingues, o que melhora a “capacidade de aprender”, mas revelou também um grande défice de vocabulário na língua materna, uma falha que depois prejudica a aprendizagem do luxemburguês e das outras línguas oficiais no Grão-Ducado, apontam os investigadores.

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