Saí da Sá Carneiro passei ao jardim
para sossegar, fui até às moitinhas
ruelas estreitas, não dava por mim,
era outra Cidade lida entrelinhas.
Eu queria provar o rústico e a nostalgia,
eu queria escrever um poema de amor,
em vez de carta decidi-me pela poesia
que está em toda a parte, está sim senhor.
Está na ponte, nas termas, no monte,
no vouga, na Rádio Lafões, na cadeia,
no largo da cerca, no belo horizonte,
no café, no combinado e à ceia.
Na Sá Carneiro, falei com o Luís Rocha,
com o Fernandes, Eduardo e o Ribeiro,
no meu terraço estou à luz da tocha,
amanhã vou à piscina e ao barbeiro.
Fui ao Solar da Lapa comprei pão e tomei café,
vi as famílias Costa e José Sousa.
Ao meio dia fui almoçar ao São José
e antes de ir ao Intermarché, consultei a lousa.
Eu tinha anotado sardinhas, vinho do Dão,
queijo da Serra, azeitonas e presunto.
O frigorífico está cheio, tudo à mão,
estou no terraço bebo cerveja e mudo de assunto.
Amanhã vou aos correios e às finanças,
passo pelo Casais e depois vou à Gazeta.
Vou à loja dos trezentos comprar umas lembranças
e ouvi uma conversa que o Euro é uma treta.
Dei a volta e fui cumprimentar os Moreiras,
os Rodrigues e o Bandeira Pinho,
trouxe um conselho e duas torneiras,
não falta nada, só por vezes o carinho.
Dizem alguns idosos na misericórdia
meu filho só cá vem duas vezes ao ano,
divorciou-se vive sózinho, é uma discórdia
a mulher fugiu com outro fulano
Passei no centro de saúde, o antigo hospital,
a sala de espera estava a abarrotar.
Dizem que é assim em todo o Portugal,
não se espera tanto, se for a pagar.
Depois dei a volta passei no Carvalhas,
fui na Rua Direita passei pela lavandaria.
O Senhor Elias passava umas toalhas,
antes de ir para casa fui à mercearia
Era já tarde quando regressei a casa,
gostei de passear sob um céu azul.
De noite gritam pessoas com grão na asa,
interropem-nos o sono em São Pedro do Sul.