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Em nome de uma pátria e de um povo

Portugal havia de ter tudo, até o mínimo de dignidade para tratar os seus doentes. Só que não tem. Nem dignidade, nem decência, nem vergonha, nem escrúpulos. Tem uma vez mais a corja política a envenenar as pessoas.

Esta semana, depois de ver na íntegra a reportagem da TVI, 1 hora e 35 minutos, tive o privilégio de me chocar como há muito não acontecia. Confesso que não estava à espera de melhoras significativas no Estado Social do país, até porque, ganhando-se o gosto pela destruição (como ganharam os nossos medíocres políticos e a nossa linda e generosa Europa), não se consegue parar. Podemos, aqui num parênteses, comparar isto aos cães que vão de mansinho matar a primeira galinha para logo de seguida trucidarem todo o galinheiro. E é isto o nosso país: um galinheiro abatido pelos dentes do poder, dos interesses financeiros, da corrupção e do compadrio. Cães grandes, de bandulho cheio a quem pouco importa a vida dos doentes, dos desempregados, dos velhos, das crianças. A quem pouco importa a pobreza ou a necessidade. A miséria humana. A única diferença que vejo entre o Portugal de agora e um qualquer país do terceiro mundo é que temos um véu branco a cobrir a podridão para não cheirar muito mal lá fora, para lá dos muros onde se decide a vida dos povos por alto.

É vergonhoso. Degradante. Inadmissível. Inaceitável para uma sociedade democrática. Tenho pena do meu país. Aflige-me esta morte lenta e dissimulada da liberdade e dos direitos. Aflige-me esta pacata aceitação do sistema. Aflige-me este folclore do Estado para com o seu povo. E no meio de todas estas aflições sinto-me totalmente incapaz, embora ainda vá lutando através das palavras. A mim ainda não me doem a voz e os dedos. Mas é aterrador abeirar-me do muro do poço, olhar o seu fundo e ouvir o choro das crianças a arrecadar as pulsações vagarosas dos pais e dos avós. É terrível assistir a esta chacina encapotada.

Olhando para trás, talvez se perceba hoje que a urgência nunca foi a de combater uma determinada crise, a urgência foi, acima de tudo, emudecer as pessoas, e para isso, nada melhor do que as enfraquecer até não restar nada. Sombra de nada… Somente o choro agoniante das crianças a arrecadar as pulsações vagarosas dos pais e dos avós. Um luto permanente debaixo do véu branco. E as bandeiras erguidas em nome de uma pátria e de um povo.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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