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Eles só se encontram em agosto

Eles só se encontram em agosto, no espaço de uma semana, nos dias fortes em que o sol se entranha nas paredes e as ruas parecem opacas nas tardes.

Encontram-se na antiga adega do Rodrigo, agora sala fresca ,rústica e convidativa, bebem cerveja, vinho ou ginginha, jogam às cartas ,falam dos filhos, dos netos, da poltica e do futebol.

Ano após ano, no breve espaço de uma semana, eles estão juntos na aldeia. E não há nem casamento, nem batizado, nem morte, que os impeça de viver esses dias, pondo silêncio a todos os outros em que não se viram e telefonavam de vez em quando para se mostrarem bem educados,mas nunca saudosos. Eles sabiam que iam ter essa semana.

Manuel caíra mal , no verão passado, à saída de casa mesmo no ultimo dia de Julho quando a mulher já preparava a ida à aldeia. No Hospital Manuel chorou. Não eram tantas as dores, dizia ele ao filho, nem sequer a porcaria da anca quebrada. Era deixar de estar com aqueles dois amigos. Eles contavam com ele.Havia até um leitão prometido pelo Rodrigo em homenagem ao nascimento de mais um neto. E tinha dito ao Zé que levava moscatel do melhor, feito ali nos lados de Azeitão. Nunca faltara a um encontro.  O filho tentou acalmá-lo mas aquilo estava a moer. Nem queria falar ao telemovel com eles, culpado da ofensa.

Quando eles entraram no quarto do hospital,poucos dias depois, carregados com baralhos de cartas, conversas e leitão, Manuel soluçou. E até as enfermeiras deixaram que os minutos fossem para além da hora da visita e encostaram ligeiramente a porta para que os três amigos se imaginassem na adega do Rodrigo, agora feita sala fresca.

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