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Dormir num restaurante

No dia seguinte, acordámos bastante cedo, como sempre. Aproveitávamos sempre as manhãs para pedalar, pois a partir de uma certa hora era impossível uma locomoção rápida e confortável, devido ao excessivo calor. Tomámos o pequeno-almoço e seguimos viagem, com a promessa de entregar os velocípedes ao Bonifácio no último dia em Bissau. Descobrir o mundo ao   passo de cada pedalada é sempre um prazer. Guias de nós próprios, paramos quando queremos, mesmo que seja apenas para oferecer uns simples balões às crianças. O que eu não esperava, de modo algum, era que este mero invólucro de borracha, também conhecido por balão, tivesse um significado enorme neste continente. O poder de um simples objeto tão banal transformava  aqueles olhares puros em enormes sorrisos. Uma alegria contagiante e invejável, de quem não tem mesmo nada. Encontrar água era apenas mais um obstáculo a aliar-se ao extremo calor. Este bem, tão cobiçado por nós, tornava-se, a cada passo, uma autêntica utopia. Desesperados, chegámos ao cúmulo de pedir água de um poço. E é nestes momentos que se dá o devido valor à água e aos muitos povos que sofrem a sua carência pelo mundo. A água era uma bênção e encontrá-la era quase um milagre. Após um longo dia a pedalar, chegámos à cidade de Safim, onde tivemos uma lisonjeada surpresa.

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Finalmente, um restaurante aberto. Sem demora, encostámos as bicicletas e entrámos no estabelecimento, onde fomos recebidos de braços abertos por uma alma bondosa e caridosa. Novamente, terei de realçar e enaltecer esta senhora por tudo o que fez por nós, e por isso mesmo vos apresento a dona do restaurante, a Principilina. Esta senhora já tinha trabalhado em Portugal e ficou bastante feliz por receber dois portugueses no seu estabelecimento. Imediatamente, gerou-se um clima de amizade e confiança. Mais tarde, apareceu o seu marido, outro ser que transbordava afabilidade e benevolência. Apesar de nos ter achado um pouco loucos pela nossa aventura de bicicleta, era bastante simpático e falava pelos cotovelos. Após um dia bastante penoso e difícil, deleitávamo-nos com cerveja fresca. Só mesmo a maldita refeição é que teimava em não aparecer. Tínhamos pedido entrecosto há umas três horas atrás, mas com tanta gentileza e amabilidade não tínhamos nem sequer coragem de reclamar. Por isso mesmo, enganávamos o estômago com cervejas. Por outro lado, a própria cerveja também nos ludibriava, deixando-nos cada vez mais alegres. Passado algum tempo, chegaram duas empregadas e a dona Principilina pediu-nos desculpa pela demora, pois fora bastante complicado encontrar lagosta para a nossa refeição. Quando ouvimos a palavra lagosta, ficámos confusos e sem perceber nada. Mas que grande mal-entendido. Tínhamos pedido entrecosto, mas as funcionárias tinham percebido lagosta. Contudo, ninguém levou a mal e o marido sugeriu imediatamente que comêssemos o mesmo que ele, para não estarmos mais tempo à espera. A verdade é que depois de um dia bastante espinhoso, o jantar e a companhia foram uma maravilha. Estávamos tão bem acompanhados que nem queríamos saber se tínhamos aposento ou não. Quando pagámos a refeição e os donos perceberam que não tínhamos onde dormir, propuseram-nos acampar no restaurante. Demos uma valente gargalhada, mas aceitámos prontamente o convite.

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Dormir num restaurante seria indubitavelmente uma experiência louca, mas ao mesmo tempo única. Nem fora preciso montar a tenda, pois havia um compartimento onde guardavam as grades de cerveja que tinha um sofá. Fecharam o restaurante e depois de uma noite bem divertida, adormecemos num aposento rodeado de gastronomia africana. No dia seguinte, as empregadas abriram o estabelecimento e ainda nos ofereceram o pequeno-almoço antes de partirmos. Mais uma vez, e não fugindo à regra, estes guineenses moldavam o meu coração com atitudes audazes e louváveis. A amabilidade destes nativos era simplesmente indescritível.

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