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“Dispara, eu já estou morto” de Julia Navarro

Opinião

Há momentos na vida em que a única forma de nos salvarmos a nós próprios é matando ou morrendo.

Dispara, eu já estou morto é o segundo romance que leio de Julia Navarro. O primeiro li-o há três anos, (podes aceder aqui à opinião sobre Diz-me quem souhttp://osabordosmeuslivros.blogspot.pt/2014/08/diz-me-quem-sou-de-julia-navarro.html) e recordo-me de ter “devorado” as suas mais de mil páginas e de ter seguido com entusiasmo (e sofreguidão até) as peripécias da vida da sua protagonista. Assim, é óbvio que o ter considerado essa leitura tão empolgante exerceu uma influência tremenda na compra do romance mais recente da autora.

Há entre as duas obras vários pontos em comum. Ambas recorrem a um jornalista que, perante um desafio profissional, viaja em busca de vidas de gente comum que, por azares do destino, se viram envolvidas em acontecimentos extraordinários e obrigadas a travar batalhas mais ou menos gigantescas. A Europa volta a ser o palco desses acontecimentos, embora emDispara, eu já estou morto, a Palestina seja o espaço primordial. Finalmente, tanto num romance como no outro, a ação vai avançando com as entrevistas/diálogos que Guillermo (em Diz-me quem sou) e Marian (em Dispara, eu já estou morto) vão entabulando com várias personagens.

Infelizmente, no meu ponto de vista, as semelhanças terminam por aqui… Enquanto, e tal como já referi, em Diz-me quem sou, a narração é vívida, empolgante e está aliada a um ritmo impetuoso, que nos faz querer sempre avançar mais e mais uma página, em Dispara, eu já estou morto a leitura chega a tornar-se penosa, pois peca por nos presentear com 830 páginas, onde a autora “nos inflige” lições de História umas atrás das outras em que as mesmas superficialmente estão entrelaçadas com uma análise mais profunda e íntima das estórias dessa gente comum que protagoniza a obra.

É indiscutível que tenho um “fraquinho” por romances históricos, já que juntam o útil ao agradável, ou seja, transmitem-nos conhecimento, fazem-nos saber mais do que se passa ou se passou no mundo que nos rodeia e, ao mesmo tempo, entretêm-nos, como aliás deve ser o principal objetivo de qualquer livro de ficção. Ora, este romance de Julia Navarro cumpre na perfeição o primeiro requisito, mas falha no segundo… Para quem, como eu, tenha muito poucas luzes do que esteve e está por detrás do conflito entre israelitas e palestinianos, a narrativa explica detalhadamente o que esteve na sua origem, como se formaram os dois estados e principalmente o que existia (desde o início do século XX) antes da sua formação. Contudo, o detalhadamente, o pormenorizadamente não existem naquilo que na verdade separa o romance, uma obra de ficção de uma de não-ficção. Falta profundidade nas relações entre personagens, faltam amores proibidos (até os há, mas tão murchinhos…), falta ritmo à narrativa, os temas dos diálogos repetem-se, as peripécias nas vidas das personagens são descritas de uma forma insossa, enfim seria necessária uma revolução em quase toda a obra para que a sua leitura se tornasse bem menos maçadora.

Mas nem tudo é negativo. Por um lado, o desenlace é inesperado, é uma lufada de ar fresco e faz-nos compreender o título da obra e o mote da mesma – “Há momentos na vida em que a única forma de nos salvarmos a nós próprios é matando ou morrendo.” Por outro, o antepenúltimo capítulo – o mais extenso da obra – foi o que mais me cativou, talvez porque aborda (com um ritmo mais vivo e uma análise mais conseguida) a Segunda Grande Guerra, a intensa e temerária oposição que a Resistência francesa ofereceu aos nazis e as desumanas experiências que estes últimos levaram a cabo contra os judeus nos campos de extermínio.

Sendo assim, tendo em conta o que já disse, não posso recomendar muito esta obra, a não ser para quem aprecie o género, isto é, uma obra que é quase de não-ficção…

NOTA – 05/10

Sinopse

 

Um romance extraordinário sobre o conflito israelo-árabe retratando personagens inesquecíveis, cujas vidas se entrelaçam com os momentos-chave da história a partir do final do século XIX a meados do século XX, e recriando a vida em cidades emblemáticas como São Petersburgo, Paris e Jerusalém. Aqui Julia Navarro conduz o leitor através de relações duras de homens e mulheres que lutam por uma parcela de terra onde possam viver em paz.

in http://osabordosmeuslivros.blogspot.pt

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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