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Dever de memória dos mortos na Grande Guerra reúne portugueses em Richebourg

O cemitério português de Richebourg, norte de França, encheu-se esta segunda-feira de emigrantes e descendentes de portugueses que participaram na Primeira Guerra Mundial e que querem prestar tributo aos mortos na Batalha de La Lys, ocorrida há 100 anos.

Álvaro Afonso Catarino, 49 anos, sobrinho de um soldado que combateu nesta região francesa, disse à agência Lusa que vai assistir à cerimónia “por dever de memória” para com os que morreram.

O lusodescendente, que nasceu em França e que reside em Lille, afirmou que as cerimónias do centenário da batalha são “muito importantes para que não se esqueça o que aconteceu”.

“Prefiro falar de paz e venho aqui agradecer aos que faleceram para que hoje tenhamos paz”, disse por seu lado Luisa Marrucho, 55 anos, a viver desde pequena em França.

“Não sei se o meu avô participou nesta batalha mas é muito importante participar nas cerimónias porque temos a sorte de estar em paz”, comentou enquanto esperava a chegada dos Presidentes português e francês, à entrada do cemitério no espaço reservado à população e junto ao ecrã gigante onde serão transmitidas as cerimónias.

Também o artista Pedro Amaral, da dupla Borderlovers, vai participar na homenagem depois de ter recebido a garantia da Embaixada de Portugal em França, que os quadros alusivos à Primeira Guerra Mundial que criou para oferecer a Marcelo Rebelo de Sousa e a Emmanuel Macron vão ser entregues, ainda que não saiba quando.

A oferta foi aceite e vai ser entregue. “São dois trabalhos gémeos que se chamam ‘O Fim de Todas as Guerras – La Fin de Toutes les Guerres’ e surgiram de um impulso meu e do Ivo Bassanti de nos associarmos às comemorações na sequência do trabalho que temos feito de cruzamento das culturas francesa e portuguesa. Foi mesmo a vontade de oferecer, pelos nossos homens aqui e todos nós”, contou o artista à Lusa, durante a passagem no controlo de segurança para aceder à rua que leva ao cemitério.

No dia em que passam 100 anos de Batalha de La Lys, tal como em 1918, a manhã está coberta de nevoeiro.

No interior do cemitério, reservado aos convidados, centenas de pessoas concentravam-se junto ao memorial.

Situado a cerca de 230 quilómetros a norte de Paris e com uma capela de Nossa Senhora de Fátima em frente, este é o maior cemitério militar português na Europa. Reúne as campas de 1.831 soldados lusos e nasceu da transferência, entre 1924 e 1938, dos corpos de soldados que estavam em vários cemitérios em França, na Bélgica e na Alemanha.

O cemitério, sob jurisdição do Estado português e alvo de obras de renovação para o centenário da batalha, tem, além da bandeira de Portugal, várias referências simbólicas, como o escudo nacional, a cruz latina ou um altar de pedra onde estão inscritas as regiões portuguesas – Algarve, Alentejo, Beira Baixa, Beira Alta, Minho, Douro e Trás-os-Montes.

O espaço funerário integra uma lista de locais memoriais da Grande Guerra que é candidata a Património Mundial da UNESCO.

A Batalha de La Lys iniciou-se na madrugada do dia 09 de abril de 1918, sob nevoeiro intenso que se misturava com os gases tóxicos e o ribombar da artilharia alemã contra as forças aliadas, nas quais os portugueses estavam integrados.

O confronto na Batalha de La Lys fez mais de 7.000 baixas portuguesas entre mortos (400), feridos e 6.600 prisioneiros, sendo um dos mais mortíferos da história militar de Portugal.

Os militares portugueses que combateram na Europa (cerca de 50.000) chegaram a França no início do ano de 1917. A Primeira Guerra Mundial, que começou em 1914, terminou em novembro de 1918 com a vitória dos aliados.

Os chefes de Estado de Portugal e de França presidem hoje, no cemitério militar de Richebourg, ao ponto alto das celebrações do centenário da Batalha de La Lys.

De acordo com o programa das cerimónias, será descerrada uma placa evocativa do centenário da batalha, seguindo-se os discursos dos dois chefes de Estado e um tributo aos que perderam a vida na Primeira Guerra Mundial.

Após as evocações no cemitério, a comitiva visita a exposição “Racines” (Raízes), de Aurore Rouffelaers, bisneta do soldado português João Assunção, que esteve nas trincheiras, e baseada em depoimentos de descendentes.

Serão ainda agraciados com a medalha de Defesa Nacional três cidadãos residentes em França e dirigentes da Liga dos Combatentes.

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