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Cuidado com as canções politicamente incorrectas

“Quando a censura chegar às canções de amor, aí sim, estaremos perante o fim do mundo”

 Livro do Amor (e do sexo selvagem)

 

Estava eu de férias na zona mais ventosa do nosso país quando li a notícia de que Chico Buarque iria lançar o seu próximo disco. Até aqui tudo bem! Até lhe sugeri através do facebook que o fizesse em Santa Cruz, na medida em que, argumentei, “o vento certamente que o ajudaria no lançamento do seu novo disco”, não tendo que se esforçar tanto fisicamente, uma vez que já não vai para novo. Mas nada! Não foi na minha cantiga, fez de conta que não era nada com ele. Mas eis que o Francisco Buarque de Hollanda (mas que não é holandês, é brasileiro) decidiu fazer a apresentação do novo trabalho com o lançamento da canção “Tua Cantiga”, que relata a paixão assolapada de um homem casado por uma mulher que não a sua: “Quando teu coração suplicar/ Ou quando teu capricho exigir/ Largo mulher e filhos/ E de joelhos Vou-te seguir/ Na nossa casa/ Serás rainha”. Caiu o carmo e a trindade! Estalou o verniz. No Brasil, o pobre Chico foi logo atacado pela legião de cronistas e comentadores defensores do politicamente correcto que pululam pelas colunas e caixas de comentários dos jornais, acusando-o de machismo primário. “Largar mulher e filhos? Que cafajestada é essa?” perguntou Luciano Trigo, da Globo. Luciano Trigo continua: “Chico parece preso a uma visão da mulher – e da relação homem-mulher – dos anos 70 do século passado. Para as mulheres lacradoras com menos de 30 anos, essa ladainha de promessas e súplicas não diz mais nada: elas não querem um homem que largue mulher e filhos; aliás elas não querem homem casado, pra princípio de conversa”. E aí temos Chico transformado num anti-herói, num cafajeste, apenas por ter escrito uma canção de amor. Qualquer dos dias, só por olharmos para uma mulher e pensarmos apenas para nós que ela é bonita e que até que não nos importávamos nada de tomar um café com ela, vamos ser queimados na fogueira da santa inquisição! Caminhamos para aí, eu vos digo! Eu nem percebo a polémica: afinal ele até segue a mulher amada de joelhos. Querem algo mais romântico do que isso? Ok, já vi que romantismo e questões de género são incompatíveis no mundo actual! Talvez se na letra da canção, ele largasse a mulher e os filhos para ir atrás de um homem, ao invés de ir atrás de uma mulher, a esquerda progressista do politicamente correcto nem sequer implicasse com a letra da “Tua Cantiga” e, quem sabe, talvez a transformasse em hino gay. Os tempos da vigilância e da inquisição estão de regresso em tudo o que dizemos, escrevemos, cantamos e criamos artisticamente.

Aviso já aqui José Cid que os grupos de igualdade de género se estão a preparar para atacar o seu tema “Portuguesa Bonita” por ele fazer comparações abusivas entre as portuguesas do centro, do sul, do norte e ilhas com base na cor da pele e outras características e também pelos piropos que lhes manda do início ao fim da canção. José Cid é ainda considerado um mau exemplo de homem porque promove o uso das mulheres apenas para aventuras: “Por todas tenho muito amor, muita ternura /No meu caminho ficou sempre uma aventura“. Ele que se prepare.

Outro cantor a braços com o pessoal do politicamente correcto é Marco Paulo com a sua canção “Eu Tenho Dois Amores”, uma vez que promove a poligamia ao dizer que tem dois amores, o que é considerado uma ofensa para as mulheres, uma vez que, como sabemos, as loiras não toleram as morenas nem as morenas toleram as loiras. Para uma maior harmonia do casal a três, sugiro talvez que a morena pinte o cabelo de loiro ou que a loira pinte o cabelo de castanho. Sei lá, pode ser que resulte…

Outro cantor que tem contas a prestar com a santa inquisição dos nossos dias é o Seu Jorge. Estava eu na Noite Branca de Braga, a assistir ao concerto deste cantor quando de repente começa ele a berrar interruptamente “Ela é Bipolar, Ela é Bipolar, Ela é Bipolar/Nosso amor que era tão bonito! De repente ficou esquisito/ Tento ser compreensivo/ Mas no fundo eu não entendo não” e o pessoal que assistia no concerto começou a ficar boquiaberto. Uns comentavam: “Mas que vergonha, então ele diz assim em público que ela é bipolar?” enquanto outros diziam: “Carago! Será que ele já experimentou dar-lhe lítio?”. As associações de igualdade de género já pediram a Seu Jorge para mudar o título da música de “Ela é Bipolar” para “Ele é Bipolar”.

Por fim, temos Salvador Sobral que diz na sua canção que ama pelos dois: “Se o teu coração não quiser ceder/ Não sentir paixão, não quiser sofrer/ Sem fazer planos do que virá depois/ O meu coração pode amar pelos dois”. As associações de género e defensoras do direitos femininos e afins estão muito chateadas com Salvador Sobral, acusando-o de autoritarismo e de machismo porque ele quer amar por ele e por ela e isso não pode ser, na medida em que numa sociedade evoluída a mulher tem direito a decidir se o quer amar ou não. Salvador Sobral não pode decidir por ele sozinho: “Ai, e coiso, não te preocupes querida, mesmo que não gostes de mim, não importa, que eu amo por mim e por ti”. Isso é impor o seu desejo, o seu poder e a sua supremacia masculina sobre a mulher, sobre a condição feminina! “Logo, se ela não sentir paixão (até nem és muito bonito mesmo com esse carrapito), o melhor mesmo é amares-te a ti próprio e deixares os outros em paz!” – aconselha a presidente do lobby do politicamente correcto e assuntos da santa inquisição em geral, Dra. Index Fogueira.

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