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Crónicas nada-fantásticas sobre o Mundial (1)

Fantástica leitora e estimado leitor, inicio hoje, em colaboração com o meu filho Diogo Luís, a primeira de uma série de crónicas nada-fantásticas sobre o Mundial de Futebol da Rússia uma vez que é sobre este acontecimento esférico que estão focados a maioria dos seres humanos deste planeta, também ele esférico. Não prometo crónicas de outro mundo, pois ao que sei, a febre do futebol ainda não chegou a outros planetas, não obstante as incomensuráveis tentativas de muitos jogadores que teimam em lançar a bola para o espaço. Quem não se lembra da bola que David Beckham lançou para os confins da Via Láctea nos quartos-de-final do Euro2004, no jogo contra Portugal? Chiquérrimo, sem dúvida, explorar o espaço, ou não estivesse Beckham habituado a explorar tudo o que é chique, a começar pela Posh Spice.

Rússia x Arábia Saudita: Os estádios usados neste Mundial localizam-se praticamente todos na parte europeia da Rússia (apenas um se situa na Ásia, em Ecaterimburgo). No entanto, nenhuma das figuras do jogo realizado em Moscovo (no estádio Luzhniki) tem ligação com a parte europeia da Rússia: Denis Cheryshev nasceu na Rússia mas muito cedo se mudou para Espanha (o pai, futebolista também, foi um pioneiro e assinou pelo Sp. Gijón em 1996); sempre jogou em clubes espanhóis como o Real Madrid, e actualmente encontra-se no clube da comunidade valenciana, Villarreal; Golovin, o melhor em campo, com 2 assistências e o primeiro golo de bola parada do mundial, nasceu e cresceu no coração da Sibéria; por último, o autor do primeiro tento da competição, Yuri Gazinskiy, nasceu na parte mais a leste da Rússia, perto da cidade de Khabarovsk, e viveu lá até aos 212 anos. Quanto à Árabia Saúdita, a maioria dos 11 titulares são jogadores do Al-Hilal, equipa agora ao comando de Jorge Jesus. Levando em consideração a rotação de treinadores muito credenciados pela federação saudita, entre os quais o vice-campeão do mundo em 2010 e atual treinador da seleção australiana, Bert van Marwjik, quem sabe se Jorge Jesus não poderá ser um potencial próximo treinador desta selecção árabe. Ainda vamos ver os Muçulmanos a adorar Jesus. Sempre foi uma melhor estreia para os sauditas do que em 2002, quando foram trucidados pela Alemanha de Rudi Völler, por 8×0, jogo que marcou também os primeiros tentos (3) de Miroslav Klose em mundiais, ele que viria a tornar-se no melhor marcador de sempre da competição no fatídico 7 a 1 no Mineirão.

Uruguai x Egipto: No segundo jogo do grupo A, após muito se especular se Mohamed Salah jogaria a partida, foi confirmado que não o faria. Hector Cuper, técnico do Egipto muito conhecido pelo seu tempo no Valencia, quando os levou a duas finais da Liga dos Campeões consecutivas em 2000 e 2001, é conhecido pela sua abordagem defensiva ao jogo. É caso para dizer que os autocarros do Mourinho comparados com os do argentino são autênticos Mini-‘Cupers’. Diria mais: Hector Cuper coloca as Piramides de Gizé à frente da baliza, com os faraós Quéops, Quéfren e Miquerinos a amaldiçoarem quem se atrever a aproximar das redes. Apesar dos esforços de El-Shenawy, há uma certeza nos jogos do Uruguai ou do Atlético de Madrid: um defesa-central vai decidir de cabeça. E Giménez assim o fez.

Portugal x Espanha: Cristiano Ronaldo tornou-se num dos 4 jogadores a marcar em 4 mundiais diferentes, juntando-se às lendas Pele, Klose e Seeler. Aguarda por Tim Cahill e Rafael Marquez (o último que no jogo frente à Alemanha se tornou num dos 3 únicos a jogar em 5 mundiais diferentes, a par de Lothar Matthaus e do compatriota Carbajal), que também podem igualar a façanha do português. Este hat-trick do capitão da seleção nacional foi apenas o sexto em Mundiais neste século, tendo um deles sido de Pedro Pauleta. Sobre a prestação de Ronaldo, apraz-me dizer que a Padeira de Aljubarrota não teria feito melhor, até porque foi um empate que nos soube, a todos, a triunfante e sofrida vitória sobre ‘nuestros hermanos’, esses que nesse mesmo dia haviam atacado CR7 por causa de alegadas dívidas ao fisco, numa tentativa de o tentar desestabilizar emocionalmente. Mas a Cristiano Ronaldo não é um espanholito qualquer que o consegue desestabilizar! Quando muito uma espanholita…

Marrocos x Irão: dos 11 titulares de Marrocos, apenas 1 nasceu no país. Os restantes titulares nasceram maioritariamente em França mas responderam ao chamamento da pátria-mãe de sua mãe (e de seu pai) e, pronto, temos que ser honestos, também de uma oportunidade de jogarem numa seleção oficial de futebol, pois se atentarmos bem, a seleção francesa nem um marroquino tem. Foi apenas a terceira vez na história de mundiais que um auto-golo decidiu o resultado de uma partida. Aposto que Aziz Bouhaddouz deve ter olhado em todas as direções à procura de um camelo para se esconder debaixo dele. Carlos Queiroz, o arqui-inimigo de Cristiano Ronaldo, festejou a bom festejar o auto-golo de Aziz, dado que sempre teve uma tendência para festejar a infelicidade alheia. Não fosse o azarado Aziz e ficaria Queiroz estas noites em profunda insónia a contar camelos para adormecer porque, no segundo tempo, nem uma única vez os seus pupilos remataram à baliza adversária. Como curiosidade refira-se que os irmãos Amrabat jogaram ambos frente ao Irão (com este nome também poderiam ter jogado de traseira), tendo um substituído o outro depois de um deles ter sofrido uma concussão cerebral num lance com um jogador iraniano. Estavam à espera de quê? Queiroz faz parecer as armas nucleares do Irão uma brincadeira de crianças…

Peru x Dinamarca: após tanta luta de um país para conseguir fazer o seu capitão, Guerrero jogar, depois de alegadamente ter sido encontrada cocaína nele, a seleção sul-americana não conseguiu finalizar apesar de muitas oportunidades, incluindo a do próprio aos 79 minutos de jogo. É caso para dizer que os peruanos ficaram só no cheirinho. Já a Dinamarca vai tentar o primeiro lugar do grupo e para isso quer derrotar a França, no jogo do dia 26 de Junho, exactamente 26 anos após a conquista inédita do Euro pelos nórdicos, isto com Peter Schmeichel na baliza, pai do atual guarda-redes da equipa, Kasper. E, neste jogo já jogado, podemos dizer… Dinamarcou!

Argentina x Islândia: A baliza da Islândia é defendida por um guarda-redes que foi responsável pela realização do vídeo da canção islandesa que concorreu ao Festival Eurovisão em 2012, intitulado “Nunca te esqueças”. Bom presságio para que Hannes Halldórsson não se esqueça de fazer boas defesas na baliza da ‘terra do gelo’. Já o lateral-direito, Birkir Mar Saeversson, que trabalha numa fábrica de empacotamento de sal, teve que pedir ao seu patrão para ser dispensado para estar no mundial. Será que lhe vão descontar no salário? Apenas dois jogadores da selecção da ´terra do gelo´ jogam na Islândia uma vez que os restantes optaram por equipas de latitudes mais baixas. Destaque para o padrinho da selecção argentina, El Pibe, que passou o jogo todo a fungar do nariz, vá-se lá saber porquê! Maradona foi ainda apanhado a fumar charuto, tendo dado como desculpa “Não sabia!”. Também Messi “Não sabia!” e foi o resultado que foi, com os dois hemisférios terrestres a empatarem redondamente tal e qual a forma do próprio planeta…

Croácia x Nigéria: após um ano no Las Palmas (equipa que foi despromovida do principal escalão do futebol espanhol) e de ter sido contratado por uma equipa também acabada de ser despromovida ao segundo escalão do futebol inglês, Stoke City, Etebo acabou por fazer o terceiro auto-golo do mundial (depois dos auto-golos de Aziz Bouhaddouz e de Aziz Behich). Já Alex Iwobi, sobrinho do lendário Jay-Jay Okocha, não conseguiu fazer muito pelo seu país. Não houve nenhum problema disciplinar no jogo, o que é raro em jogos da Croácia no mundial. Quem se pode esquecer do Croácia x Austrália de 2006, quando Josip Simunic acumulou 2 cartões amarelos e continuou em campo porque o árbitro pensou que ele era australiano no primeiro amarelo e croata no outro amarelo? Ou de Pedro Proença ter expulso Alex Song após este agredir brutalmente Mario Mandzukic no último mundial?

Costa Rica x Sérvia: Keylor Navas não conseguiu salvar a sua seleção de um livre fortíssimo do capitão sérvio, Kolarov. A seleção sérvia que é constituída por alguns veteranos como Ivanovic, o próprio Kolarov, e o guarda-redes, Vladimir Stojkovic, que disputou o mundial de 2006 por Sérvia e Montenegro. Não foi caso único, já que alguns jogadores dessa selecção de 2006 também disputaram o Mundial da África do Sul, em 2010, pela Sérvia. Caso único é o do pupilo de Mourinho na Inter de Milão, Dejan Stankovic, que disputou 3 mundiais por 3 seleções distintas: pela Jugoslávia, pela Sérvia e Montenegro e pela Sérvia e tudo isto sem sair do mesmo sítio…

México x Alemanha: Ficou provado que o plano de treinos da seleção mexicana se situa num patamar muito superior ao do plano de treinos da seleção germânica. Tivesse a Federação Alemã de Futebol aberto os cordões à bolsa e financiado um plano de treinos que incluísse estágios com prostitutas, tal e qual como o plano de treinos mexicano, e aposto que o resultado do jogo teria sido completamente diferente. É que disciplina e rigor a mais causa stress aos jogadores. Nada como umas relaxantes massagens realizadas por umas belas profissionais do sexo para elevar ao máximo a performance de um jogador de futebol. Os jogadores mexicanos que o digam…

Brasil x Suíça: A última vez que o Brasil não venceu o seu jogo inicial num Mundial foi há 40 anos, em 1978. Nessa ocasião, empataram a 2 com a Suécia, sendo treinados pelo militar Cláudio Coutinho. Não fosse outro Coutinho, o Brasil teria perdido o jogo frente à Suíça, algo que aconteceu pela última vez há longínquos 84 anos, no mundial de 1934. Na altura, marcou, para o Brasil, Leonidas da Silva, jogador que deu origem ao chocolate Diamante Negro. Hummm… que boas recordações…

Antes de terminar esta crónica, quero deixar o seguinte aviso: Não! Os jogadores portugueses não são todos irmãos, os jogadores não pertencem todos à mesma família Silva! E não! O pai dos jogadores da seleção portuguesa não é o Cristiano Ronaldo e o avô não é o Fernando Santos! Aconselho, pois, muita cautela durante as próximas semanas em que vigorar este autêntico ‘Estádio de Sítio’!

Esta crónica foi escrita em parceria com o meu filho Diogo Luís, estudante na Universidade do Porto

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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