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Cristo Rei do Lubango ainda recorda chegada dos madeirenses ao sul de Angola

A 2.100 metros de altitude, de braços abertos sobre a atual cidade do Lubango, o monumento do Cristo Rei é hoje um dos marcos que recorda os madeirenses que se instalaram no sul de Angola no final do século XIX.

“Nós temos uma série de famílias que são descendentes desses primeiros madeirenses que se fixaram nesta região e todos eles, essas famílias inteiras, estão cá e nunca saíram de cá. São bastantes famílias”, começou por explicar à Lusa a diretora do Museu Regional da Huíla.

Soraia Ferreira, 36 anos, é de resto descendente dos madeirenses que se instalaram na atual província da Huíla, em 1885, e o museu que dirige está a preparar uma exposição sobre a evolução da região, com a coleção do período colonial que está em fase de inventariação.

Simbolicamente, o Cristo Rei do Lubango ocupa posição de destaque, até porque, recorda, é passagem “obrigatória” para quem visita a cidade, a segunda maior de Angola.

Construído no topo da serra da Chela, em 1957, com vista para a então cidade Sá da Bandeira, no período colonial português, o Cristo Rei foi concebido pelo engenheiro Frazão Sardinha, oriundo da Madeira, tal como os fundadores da cidade, replicando os que já existiam em Lisboa e no Rio de Janeiro.

“Acabou por pensar que seria uma boa ideia edificar também um aqui, a 2.100 metros de altura, com os braços abertos e num ponto que sabemos que é visível de qualquer ponto da cidade do Lubango”, explica Soraia Ferreira.

A estátua está hoje classificada como património nacional em Angola e é uma imagem de marca do Lubango, sempre associada aos madeirenses que ainda hoje têm descendência naquela zona do sul.

“Na altura, a ilha da Madeira estava a passar por uma fase de superpovoamento, houve necessidade, e tendo em conta a tradição dos madeirenses no que diz respeito à prática agrícola e de irrigação de solos (…), sabemos que houve o interesse da administração portuguesa de os trazer para cá”, justifica a diretora do museu.

O interesse colonial pela região das terras altas da Chela data de desde 1630, face ao clima e ao potencial agrícola, levando à constituição de colonatos agrícolas, como Alba Nova (1769) e Humpata (1882).

A 19 de janeiro de 1885 chegam à atual Lubango os primeiros 222 colonos portugueses, recrutados na ilha da Madeira, por partilhar características com aquela região angolana, que estiveram na origem da cidade, atual capital da província da Huíla.

Nas margens do Caculuvar, a mais de três quilómetros do centro da cidade, estes colonos construíram enormes estruturas de pau-a-pique com teto de capim para se alojaram provisoriamente, daí o nome pelo qual ainda hoje o local é conhecido: Barracões.

A história do Lubango está de resto patente na coleção conservada pelo Museu Regional da Huíla, constituído em meados da década de 50 do século XX.

“O rés-do-chão funcionava com uma coleção dedicada exclusivamente à etnografia e etimologia portuguesa, como forma de ensinar aos descendentes dos colonos um pouco da cultura dos seus pais e dos seus avós, e depois na cave tínhamos uma coleção dedicada exclusivamente a artefactos que dizem respeito à cultura local”, recorda a diretora.

Em fase de preparação, a coleção voltará em breve a ser exposta, recordando nomeadamente a chegada dos primeiros colonos portugueses, da Madeira.

“Essa coleção portuguesa que nós tínhamos em exposição antes da independência continua connosco. Está sob tutela do museu, em fase de inventário, para, possivelmente num futuro muito próximo, podermos fazer uma exposição que sirva para que qualquer interessado sabia um pouco mais sobre o que foi deixado pelos colonos portugueses nesta região, em termos de espólio museológico”, garante Soraia Ferreira.

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