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Continuem a falar

A fala possibilitou a comunicação de ideias que permitem aos seres humanos trabalharem juntos para construir o impossível. As maiores conquistas da humanidade surgiram do falar. As nossas maiores esperanças poderão tornar-se realidade no futuro. Com a tecnologia à nossa disposição, as possibilidades são ilimitadas. Tudo o que precisamos fazer é garantir que continuemos a falar…

Stephen Hawking – Pink Floyd “Talkin’ Hawkin”

Neste preciso momento, algures no espaço que foge ao alcance do que os meus olhos são capazes de atingir como campo de visão há uma série de satélites que facilitam um interminável numero de comunicações feitas diariamente no planeta em que habitamos.

Será correto dizer que antes de ”mandarmos” para órbita os satélites que nos facilitam essas comunicações, “tivemos” que os inventar primeiro! E que durante esse processo “inventámos” os aparelhos que possibilitam essas comunicações. E que com esses aparelhos “inventámos” variadas formas de fazer chegar essas comunicações à maior parte do planeta! “Melhoramos” e “aperfeiçoamos” os meios de comunicação entre “nós.”

E, no entanto, eu sou obrigado a confessar. Nunca inventei nada. Nem sequer alguma vez fiz parte de qualquer investigação no sentido de obter algum meio de comunicação, a não ser quando era criança, e com duas caixas de fósforos vazias, ligadas às extremidades de uma linha comprida e resistente, fiz uma espécie de telefone de pequena distância. Mas, mais uma vez tenho que confessar… a invenção não foi de minha autoria. Alguém o tinha feito antes. A invenção foi dada ao conhecimento através da fala. A partilha do conhecimento, por muito pequeno ou insignificante que pareça.

A equipa perdeu, e jogamos mal. A equipa ganhou, jogamos bem. O árbitro tomou uma decisão errada ou duvidosa e fomos roubados.

Será correto individualizar o que no geral mais nos convém?!

Estamos na era das comunicações e, no entanto, nunca estivemos tão isolados nas nossas conversas uns com os outros como estamos agora.

Na cantina da companhia onde trabalho existem dois grandes écrãs de televisão que estão ligados o dia inteiro, sintonizados no canal da BBC News. Nos intervalos, do pequeno almoço, do almoço e da pausa de cortesia das quatro da tarde, uma pequeníssima minoria de uma cantina com mais de cem pessoas dá alguma atenção às noticias que passam no ecrã. Todos os outros, apesar de sentados na sua maioria em grupos, às vezes de meia dúzia em cada mesa, pouco comunicam entre si. O mundo cai aos pedaços e poucos parecem dar conta disso. Todo mundo tem um telemóvel. Todo mundo vê vídeos, rindo por vezes às gargalhadas, das mais absurdas e ridículas tropeçarias que esses vídeos apresentam. Até parece que, quanto mais idiota e ridículo for a pessoa que faz o vídeo e que nele participa, mais popular se torna. Às vezes, para surpresa minha, atingem milhares, se não milhões, de visualizações. Da pouca comunicação que fazem entre si, é para mostrarem uns aos outros as baixarias que circulam pelos Facebook e Youtube. – Já viste este?

É uma das perguntas mais feitas entre si. Às vezes os ditos vídeos são tão ridículos que quem os vê, bem como a pessoa que orgulhosamente os mostra, como se fosse uma descoberta feericamente sua, lá lhes vai arrancando, no meio das gargalhadas, algo como, – Oh pá, porque é que as pessoas fazem coisas destas!

Às vezes não me contenho e respondo.

– Porque o idiota, ou os idiotas que fizeram esse vídeo ridículo sabem bem que muitos outros idiotas o vão ver.

Comentários destes, bem como a minha irrefutável recusa em ver esses vídeos, não fazem de mim uma pessoa muito popular. Bem como escrever em artigo esse tipo de afirmações. Mas como não procuro populismo continuarei a dormir para o mesmo lado descansadamente como o tenho feito. Sem qualquer arrogância no tom.

Em muitos lares, hoje em dia, enquanto os pais estão, por exemplo, na sala a ver televisão, os filhos estão isolados nos seus quartos, cada um com o seu aparelho, seja ele telemóvel, computador ou consola de jogos.

E nem sequer é dizer que esses aparelhos e os meios de comunicação que eles possibilitam não nos façam falta, porque fazem. É dizer que, com todas as maravilhas e benefícios que nos proporcionam, não nos tirem a fala, e com ela o meio mais original e instrutivo de comunicar e transmitir o conhecimento.

É dizer que com a ágil e desenvolta facilidade com que lhes temos acesso, não os usemos para trazer ao de cima o que de mais maléfico, ridículo e absurdo, tem o ser humano, em paralelo com, felizmente, outras soberbas qualidades. É precavermo-nos de um narcisismo férreo que nos pode expor ao ridículo.

É não alimentar ideologias extremistas que em nada dignificam a qualidade de vida e o interesse de qualquer cidadão. É não usar os meios disponíveis na exploração sexual de crianças e pessoas mais vulneráveis. É não utilizar os meios no movimento de mercadores de escravos.

De facto, no geral, inventamos e criamos, individualmente isolamo-nos com as invenções que nos inventaram.

Falamos pouco uns com os outros. E, no entanto, tal como diz um dos maiores génios do planeta, na musica de uma das melhores bandas do mundo, tudo o que precisamos fazer é garantir que continuemos a falar…

Ah, e já agora, a escrever também. Uma maneira silenciosa de comunicar e expor ideias, mesmo que nem sempre estejamos de acordo com elas.

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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