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Cerca de 100 treinadores portugueses apostam no sonho chinês para o futebol

Nascido em Arganil, distrito de Coimbra, Gonçalo Figueira é treinador de futebol em duas escolas públicas de Pequim, parte de uma vaga de técnicos portugueses que rumou à China, atraídos pelo ‘sonho chinês’ para a modalidade.

“Como ganhámos o campeonato europeu, a China olha hoje para nós como uma grande potência do futebol”, explica Figueira, 31 anos. “Isso valoriza o treinador português”, diz.

De acordo com a contagem da agência Lusa, quase 100 treinadores portugueses de futebol vivem hoje no país asiático, desde a província de Jilin, na fronteira com a Coreia do Norte, à ilha tropical de Hainan, no extremo sul do país.

Alguns são contratados por clubes e outros estão integrados no sistema de ensino público, que incluiu em 2015 a modalidade no desporto escolar, parte de um “plano de reforma do futebol” decretado pelo governo, visando elevar a seleção chinesa ao estatuto de grande potência.

País mais populoso do mundo, com quase 1.400 milhões de habitantes – mais do dobro de toda a União Europeia -, a China ocupa o 75.º lugar do ‘ranking’ da FIFA, atrás de Cabo Verde, Burkina Faso e muitas outras pequenas nações em vias de desenvolvimento. A única participação do país asiático num mundial foi em 2002.

O ‘sonho chinês’ para o futebol, anunciado pelo presidente Xi Jinping, passa por três etapas: qualificar-se para a fase final do mundial, organizar um mundial e vencê-lo, em meados deste século.

O ensino público assume especial importância na formação de jogadores de futebol na China, onde existem pouco mais de 100 clubes – só no distrito do Porto, por exemplo, há cerca de 450.

Para Chen Tao, responsável pelo departamento de educação física de uma das duas escolas onde Gonçalo Figueira leciona, o “mais importante” agora é “fazer com que os miúdos gostem de futebol”.

“No futuro, o plano é dar aos melhores na modalidade acesso privilegiado a escolas de topo”, como forma de “motivar” os atletas, revela.

O poder financeiro do país asiático, a segunda maior economia mundial, garante que técnicos portugueses continuarão a rumar ao país.

“A nível monetário sem dúvida que compensa”, afirma Figueira, que tem um mestrado em treino desportivo especializado em futebol, pela Faculdade de Motricidade Humana, e chegou a Pequim em abril de 2017.

“Eu não acredito que hajam treinadores a ganhar tanto como eu na II liga [portuguesa]”, acrescenta. “E eu trabalho com escolas e eles com equipas profissionais”.

Só a academia de futebol do Shandong Luneng, uma das mais prestigiadas da China, que acolhe 300 jovens futebolistas, e inclui 36 campos relvados, escola, restaurantes e hospital, conta com oito portugueses nos quadros. O coordenador técnico é o antigo diretor técnico da Federação Portuguesa de Futebol Francisco Silveira Ramos.

Já na Superliga chinesa competem os treinadores portugueses Paulo Bento (Chongqing Dangdai Lifan), Vítor Pereira (Shanghai SIPG) e Paulo Sousa (Tianjian Quanjian), enquanto no Mundial da Rússia, pela primeira vez, a seleção portuguesa inclui um jogador que compete na China: José Fonte, do Dalian Yifang, titular contra Espanha e Marrocos.

Poucos meses após chegar à capital chinesa, Gonçalo Figueira ganhou o campeonato do distrito de Haidian (norte de Pequim) com uma das suas escolas, numa conquista inédita para aquele estabelecimento de ensino.

“Usámos métodos que os miúdos não estavam habituados e isso notou-se: houve uma evolução clara na tática e posicionamento”, descreve.

“Para eles, futebol era ir atrás da bola”, conta. “Não tinham noção do que é jogar sem bola, ou correr só o necessário”.

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