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Camboja: as aldeias flutuantes

Durante o almoço, ainda bem perto dos templos de Angkor, o nosso motorista do tuk tuk, que era um rapaz bastante novo e simpático, divertia-se a escrever os nossos nomes com os carateres cambojanos.

Quando falou das aldeias flutuantes, fiquei pasmado e bastante curioso, pois nunca tal tinha ouvido falar na minha vida.

Sendo que ele era bastante atencioso e delicado, decidimos pagar-lhe o almoço e combinámos um preço para ele nos levar até às tais aldeias.

Quando chegámos, tínhamos um pequeno porto ao longo do rio, com imensas canoas.

Tonle Sap é uma combinação de lagos e rios, e é o maior lago de água doce do sudeste asiático.

Na estação seca, tem cerca de 2500 km2 e durante a época das monções chega a atingir quase 20.000 km2.

Devido a estas flutuações, as habitações são construídas sobre estacas, mas a grande maioria das casas flutuam  sobre as águas.

O passeio em canoa pelo lago foi deveras impressionante.

Neste mundo tão estranho e tão diferente, a água é indubitavelmente o elemento mais importante.

Serve para tudo, desde tomar banho, lavar roupa ou louça, ou mesmo para os mais jovens brincarem.

A cada passo, as crianças que se divertiam a saltar das suas casas para o lago, acenavam-nos com um enorme sorriso.

Um mundo tão claustrofóbico, rodeado apenas por água, mas que em nada desenraizava a alegria e a felicidade destes miúdos.

Devido a uma numerosa e opulenta comunidade que habita neste lago, existem escolas flutuantes e até mesmo uma igreja flutuante.

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O mais hilariante foi ter visto um barco a puxar uma casa com toda a família dentro.

Desatei às gargalhadas, mas confesso que este procedimento é bem capaz de ter as suas vantagens.

Os nativos podem chatear-se as vezes que quiserem com os vizinhos, que a seguir basta pegar no barco e remar para outra freguesia.

Mas, por outro lado, imagino que se existissem carteiros por estas bandas, provavelmente estes teriam a profissão mais difícil do mundo.

É que uma constante mudança por parte dos moradores iria certamente confundir estes estafetas de profissão delicada e bicuda.

Por vezes éramos interpelados por alguns nativos que, em pleno andamento, entravam na nossa canoa com o intuito de vender refrescos e mantimentos.

Passado algum tempo, parámos numa espécie de café ou taberna flutuante.

Fiquei espantado e aturdido quando vi que os proprietários tinham crocodilos em cativeiro.

Mas pior do que isso, era uma visão pertinaz de ratos que sorrateiramente deambulavam pelas águas e casas.

Indubitavelmente, estamos perante uma realidade bem distante e desapegada da nossa.

Se até agora achava que já tinha assistido a tudo, eis que uma situação completamente atípica para mim se conjuga na perfeição para estes nativos.

Uma criança com cerca de cinco anos estava no chão a brincar com uma cobra.

Por vezes, deitava a sua cabeça por cima dela, como se fosse uma autêntica almofada.

A verdade é que fazia dela o que queria. Eu estava simplesmente pasmado a ver esta criança a divertir-se.

Imaginar-me naquela idade, deitado por cima de uma cobra a brincar, seria impensável.

Nunca na vida! De certeza que teria morrido de susto e mais uns quantos ataques cardíacos.

Mas eis que, por vezes, o anómalo para nós é o comum para algumas sociedades.

No dia seguinte, acordámos bastante cedo para apanhar o autocarro de volta para Banguecoque.

Quando saímos da pousada, tivemos uma agradável surpresa.

O nosso motorista de tuk tuk do dia anterior tinha vindo despedir-se de nós e para além disso, ofereceu-se para nos levar até à central de camionagem.

Quando lhe perguntei o preço, ele recusou qualquer oferta.

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Antes da partida, assistimos a outra situação extremamente anedótica.

A empresa que realizava esta viagem até Banguecoque tinha vendido bilhetes a mais e como já não havia qualquer lugar, colocaram cadeiras de plástico no corredor para os passageiros se sentarem.

Entre algumas gargalhadas, despoletadas por este espetáculo, tive de me conter, por alguns passageiros não acharem piada alguma.

Pelo menos os que estavam nesta situação.

Como é óbvio, estas cadeiras não estavam pregadas de maneira alguma ao chão.  Assim, sempre que o condutor fazia uma travagem mais brusca, os passageiros quase caiam uns em cima dos outros. Sendo que ao meu lado estava um fulano chinês, sentado numa dessas tais cadeiras e que não estava a achar qualquer piada a este cenário, a cada passo eu tinha de conter as gargalhadas e olhar para o lado da janela.

Mas olhar para a janela nem sempre era fácil e houve alguns momentos em que tive mesmo de esboçar uma valente gargalhada.

Ver uma motorizada com cinco passageiros ou até mesmo um fulano com três porcos numa scooter  são deveras situações hilariantes e loucas.

Mas viajar é mesmo isto. É abraçar de bom agrado todas estas situações, sempre com um enorme sorriso.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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