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Autor português lança-se no mercado francófono da BD

Luís Dias Ferreira é português, arquiteto e professor, mas também é Luís Diferr para singrar mais facilmente no mercado franco-belga de banda desenhada (BD), em que estará, em breve, com um livro integralmente financiado por internautas.

O português é um dos 19 mil membros do ‘site’ belga Sandawe, a primeira plataforma de ‘crowdfunding’ 100% dedicada à BD e única com serviços de financiamento e de publicação.

“Bastante interessante, mas também muito exigente e desgastante” é como Diferr explicou à agência Lusa a sua experiência no site, porque, além da própria BD, estão na lista dos afazeres as contrapartidas para os financiadores e as redes sociais.

Tudo para “tentar cativar e manter o interesse dos edinautas”, ou seja dos internautas/editores que custeiam os projetos submetidos no ‘site’, num total que já ultrapassou os dois milhões de euros.

A inspiração para abrir o Sandawe, em 2010, veio do sucesso da editora independente de música My Major Company, que, em 2007, foi o primeiro ‘site’ de financiamento coletivo de projetos (crowdfunding), relatou, por seu lado, o criador do site, Patrick Pinchart.

“Um CD vendeu mais de um milhão de cópias e as pessoas que o financiaram ganharam 40 vezes o dinheiro investido. Eu pensei adaptar o modelo à área dos ‘comics’”, contou o antigo editor da prestigiada revista de BD Spirou.

Pinchart precisou que quando um projeto chega aos 100% de financiamento, “o artista é pago e o dinheiro usado para imprimir, comercializar e promover o projeto, tal como outra editora”. Até agora, 1/3 dos projetos tem chegado a esse objetivo.

O português Diferr está nestas estatísticas e tem o seu livro “Kallilea, a Amazona” em produção: “será um álbum ‘work in progress’ (trabalho em progresso), com cerca de 108 páginas”.

A publicação está assegurada nos países de língua francesa, mas a publicação em Portugal “está bem encaminhada”, disse.

Com sede em Lasne, uma comuna francófona da Bélgica, a cerca de 30 quilómetros de Bruxelas, a plataforma tem sobretudo edinautas de França e da Bélgica.

“Mas temos de todos os continentes, o que não é fácil quando é altura de enviar os livros”, disse Patrick Pinchart, que enumerou entre os maiores sucessos do site, até ao momento, as obras ‘D’Encre et de Sang’ e ‘Sara Lone’.

“O verdadeiro sucesso é, porém, atrair muitos artistas bem conhecidos como Raoul Cauvin (Les Tuniques bleues, Cédric, Pierre Tombal, Les Psy), Tome (Le Petit Spirou, Soda), Darasse (Zowie, Les Minoukinis, Tamara, le Gang Mazda) e Renaud (Jessica Blandy, Crotale)”, concluiu.

Já o português que adotou um apelido ‘afrancesado’ admitiu “estar longe de ser uma realidade” um autor oriundo de Portugal conseguir impor-se no universo francófono da BD.

“Mas ou é isso ou nada. Porque, em Portugal, a BD como modo de vida (ou nem isso) é praticamente inviável, dada a exiguidade do mercado. E se, alguns autores lusos, das novas gerações, têm tido o mérito de encontrar trabalho nos EUA, com histórias de super-heróis (da Marvel), esse não é um campo que me interesse” disse, explicando que, por isso, Diferr ‘nasceu’ em 1983 para apostar no universo francófono das vinhetas.

Em bom português, relata os planos para continuar a ser professor do ensino básico e secundário, terminar este 1.º álbum duplo de Kallilea, acabar a produção dos álbuns-bónus e encetar a 2.ª aventura da sua heroína, que se chamará “Corações de Pedra” e propô-la para edição.

“Eventualmente, desenvolver outra série, completamente diferente e já bastante bem delineada” acrescentou o autor, que não junta ao mundo real o outro dos quadradinhos.

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