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Autarca de Pedrógão Grande admite que possa haver habitações não permanentes reconstruídas

O presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, admitiu esta quarta-feira que possa haver casos de habitações não permanentes reconstruídas com apoios, ponderando ainda avançar com um processo interno.

“Admito que se venha a provar que uma ou outra poderão não ser [de primeira habitação]”, disse Valdemar Alves, que falou aos jornalistas antes de entrar para a autarquia, onde deverão estar a terminar as buscas da PJ relacionadas com as suspeitas de irregularidades na reconstrução de casas afetadas pelo grande incêndio de Pedrógão Grande, em junho de 2017.

Valdemar Alves referiu ainda que “poderá haver algumas declarações erradas” nos processos de reconstrução.

Apesar de admitir que possa haver casas de habitação não permanente a serem reconstruídas como de primeira habitação, no passado, Valdemar Alves frisou, por diversas vezes, que todas as casas reconstruídas eram de primeira habitação.

Questionado pelos jornalistas, voltou, no entanto, a reafirmar que não acredita que este seja um caso de fraude ou de desvio de fundos e reiterou que todas as casas reconstruídas arderam com o incêndio.

Segundo o autarca, os inspetores da PJ, nas diligências que fizeram na Câmara Municipal de Pedrógão Grande e na Casa da Cultura do município, verificaram arquivos, computadores e telemóveis.

“Em boa hora vieram”, disse, referindo-se aos inspetores da PJ que fizeram as buscas.

Em declarações aos jornalistas, o autarca referiu ainda que está a ponderar avançar com um processo interno para averiguar se houve irregularidades administrativas no processo de reconstrução por parte do município.

Apesar de estar “tranquilo” e depositar “total confiança” no ex-vereador Bruno Gomes, que chefiava a equipa, e nos restantes técnicos envolvidos no processo, referiu que está a ponderar avançar com um processo interno.

“Se houver irregularidades que se apontem, aí sim. Confiei nas pessoas, eu não ia ao terreno, se alguém ultrapassou os limites com certeza que tem que ter processo disciplinar”, frisou.

Sobre se o processo será instaurado apenas depois de o Ministério Público chegar a alguma conclusão, Valdemar Alves referiu que poderá avançar, entretanto, até porque tem sido aconselhado a fazer isso.

“Continuo a acreditar nas casas serem efetivamente de primeira habitação, mas admito que seja surpreendido nos meus inquéritos”, disse, referindo que, talvez, vá “matar saudades” e “fazer de investigador” (o autarca é ex-inspetor da PJ).

“Chegando a uma certa idade voltamos à idade de putos outra vez e sou um homem que acredita, mas estou a ver que não posso acreditar”, frisou, apesar de vincar que continua com “a esperança de que se possa acreditar uns nos outros”.

Na segunda-feira, o presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, tinha afirmado que todas as casas reconstruídas são de primeira habitação e que não há nenhuma ilegalidade.

Apesar dessas afirmações, admitiu aos jornalistas que não consultou nenhum dos processos de reconstrução: “Eu confio nas pessoas que processaram todos os processos e elaboraram os processos”, disse, no final da Assembleia Municipal.

Em causa estão denúncias feitas em duas reportagens, uma da Visão e outra da TVI, que aludiam a situações de compadrio na atribuição de fundos para a reconstrução de habitações.

As duas reportagens referiam que casas que não eram de primeira habitação foram contempladas com obras em detrimento de outras mais urgentes e também que casas que não arderam foram reconstruídas com fundos solidários.

A presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, Ana Abrunhosa, enviou para o Ministério Público 21 processos para análise. Também o autarca já tinha referido que enviou para análise do MP um conjunto de processos, sem especificar quantos.

O grande incêndio que deflagrou em 17 de junho de 2017, em Escalos Fundeiros, concelho de Pedrógão Grande, e que alastrou depois a concelhos vizinhos, provocou 66 mortos e 253 feridos, sete deles com gravidade, tendo destruído cerca de 500 casas, 261 das quais eram habitações permanentes, e 50 empresas.

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