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António Costa e a saúde em Marte

© Pixabay

A benfazeja memória relembrou-me a indignação de António Costa em 18 de maio de 2015, a propósito do Serviço Nacional de Saúde (SNS), quando o Governo era outro e o PS na Oposição se desdobrava a prometer maravilhas. Registava-se o fim do ciclo da troika e querendo desvalorizar e apoucar a circunstância, o líder socialista reuniu então uns tantos camaradas em Coimbra para falar sobre o SNS e dizer que “ao contrário do que tem sido a prática da coligação de Direita, gastar menos não é gastar melhor” e “não haver camas nos hospitais não é poupar dinheiro”, é ter “falta de respeito pelos utentes dos hospitais”.

Muito bem; se nos ficarmos apenas pelas dívidas vencidas do SNS, isto é, sem pagamento há mais de 90 dias, verificamos que em dezembro de 2015 eram de 451 milhões de euros e em janeiro de 2018 de 951 milhões de euros. Por seu lado, em dezembro de 2017 a dívida global dos hospitais públicos à indústria farmacêutica já ascendia a 906,1 milhões de euros (664,6 milhões de euros de dívida vencida), num aumento de 26,4% em relação a 2016, a que se somavam 316 milhões de euros (205 milhões de euros de dívida vencida) a empresas de dispositivos médicos.

Entretanto, uma auditoria à ARS de Lisboa e Vale do Tejo detetou que a dívida registada “encontrava-se subavaliada em cerca de 183 milhões de euros”.

Depois de três anos no Governo, fica então a perceber-se o exato alcance do sobredito pensamento de António Costa. “Gastar menos”, não é “gastar melhor”, é contratar mais e pagar pior, de preferência levar de graça. E quando os doentes se amontoam em macas pelos corredores, porque mesmo sem troika o Governo não as compra, já não há falta de respeito; será talvez política de proximidade.

Significativamente – a realidade é sempre mais forte do que o socialismo -, quarta-feira no Parlamento o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, reconheceu que “quantidade significativa” de hospitais estão em “falência técnica”. Apesar disso, em debate com Assunção Cristas, ontem, o primeiro-ministro desafiava: traga-me um único exemplo do que esteja pior”…

Quer dizer; ponderado que as dívidas do SNS dispararam, o Governo confessa falências técnicas, as listas de espera aumentaram, os doentes são forçados a levar lençóis de casa, são acamados de forma indigna e desesperam pelo atraso na realização de operações cirúrgicas, muitas delas de que dependem para viver, faltam medicamentos e equipamento, que pensar? António Costa viverá talvez em Marte. E para nosso desespero, mesmo assim governa.

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