Num festivo almoço, que participei, em meados de maio, foram contadas muitas anedotas; comentaram-se notícias, vindo a lume na imprensa; e o que aconteceu, a trabalhador, numa fábrica, algures na Província do Minho.
Havia encarregado, em determinada empresa, que primava pela assiduidade e dedicação: mesmo doente, com altas temperaturas, não faltava: tinha que “cumprir o seu dever”; as obrigações exigiam…
Em dias de greve – era na época em que alguns sindicalistas, defendiam mais seus interesses, que os do trabalhador, – o gerente vinha ter com ele e pedia-lhe, encarecidamente, para não faltar:
– “Não me vai faltar? Pois não?…”
E não faltava. Apesar de constituição franzina e tímido, enfrentava, heroicamente, as arremetidas dos grevistas e os chistes grosseiros dos operários.
Com os que ficavam, garantia, dentro do possível, a produção, e a entrega, a horas, das encomendas, aos clientes.
Os colegas: outros encarregados, riam-se à socapa da dedicação, e confraternizavam, amigavelmente, com os trabalhadores grevistas.
Assim correram os anos… e ele sempre cumprindo o que dizia ser ”o seu dever”.
Um dia, o gerente, disse-lhe:
– “Vou-me aposentar, mas já propus à Administração para lhe darem o prémio merecido.”
Era o primeiro que recebia… durante trinta e tal anos de serviço!
Substituído o gerente, e feito as habituais despedidas, o novo responsável, resolveu nomear novos encarregados: pessoas da sua confiança ou da sua cor política.
Chamou, pelo continuo, o nosso homem, e disse-lhe, enfaticamente:
– “Temos que meter sangue novo…O senhor está perto da aposentação… mas… digo-lhe: estamos gratos pelo bom serviço…
O velho encarregado, saiu do gabinete, de olhos baixos e triste; e os operários – que o admiravam, – lamentaram, ente si, a sua má sorte.
Enfim pelo menos receberia o prémio, prometido. Ao menos isso ninguém lhe tiraria pensou.
Esperou… esperou, e como nunca o chamassem para lhe entregar a importância prometida, resolveu dirigir-se ao novo gerente, e ouviu, estupefacto, o seguinte:
– “Quem lhe atribuiu o prémio, foi o anterior… mas quem distribui agora o dinheiro sou eu!… Premeio quem eu quiser!”
Esta ocorrência, que escutei, durante o repasto, fez-me pensar: Será que compensa zelar os interesses da empresa ou os do chefe imediato?
E ainda, reflecti – tenho o mau habito de reflectir: Será que compensa ser honesto e sacrificar a saúde, para cumprir o dever? Ou é melhor usar estratagemas, e militar num partido político?
Quantos trabalhadores, como este, passaram a vida a servir e a dedicarem-se, para no final da carreira, nem a “medalha de cortiça” receberem. – Como dizem aqueles que preferem viver de cambalachos e subirem, na profissão, à custa dos trabalhadores…
É a vida… Quem sabe se é por isso, que os portugueses são “preguiçosos” na sua terra, e trabalhadores exemplares fora!