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A origem do Natal

© Pixabay

Ah, o Natal… algo que, particularmente quando pequenos, sentimos ser mágico e especial. No fundo, trata-se da festa em que os cristãos celebram o nascimento de Jesus. Contudo, a sua origem perde-se na Antiguidade e resolvi, embora num post bem extenso, descobrir e dar-vos a conhecer as origens do nosso Natal, com a ajuda do “El País”.

O Natal transformou-se numa quadra que mistura tradições de várias origens com um consumismo desenfreado e que actualmente, apesar do comércio electrónico, continua a mobilizar as cidades. As luzes, as árvores, as compras, as feiras, os “amigo secreto” e os jantares de empresa não nos deixam ver o principal: o Natal é mesmo uma festa religiosa, em que os cristãos celebram o nascimento de Cristo. Mas, se pesquisarmos um pouco, nas primeiras e remotas crenças humanas, às quais, com o passar do tempo, se foram incorporando novas tradições, damos conta de muito mais. Desde o Império Romano, o Natal tem sido um conflito entre elementos religiosos e pagãos, que se prolonga até aos nossos centros comerciais.

Por exemplo, por que celebramos o Natal em Dezembro?

O solstício de inverno (no Hemisfério Norte) é a noite mais longa do ano, quando os dias começam novamente a crescer, uma vitória simbólica do Sol contra a escuridão. Segundo o historiador Richard Cohen “praticamente todas as culturas têm uma forma de celebrar esse momento. O aparente poder sobrenatural para governar as estações, que se manifesta nos solestícios, inspirou reacções de todos os tipos: ritos de fertilidade, festivais relacionados com o fogo, oferendas aos deuses”. Nesta mesma época do ano, em meados de Dezembro, os antigos romanos festejavam a Saturnália, festival em que ofereciam presentes entre si, mas também trocavam de papéis sociais, uma mistura entre o nosso Natal e o Carnaval.

Quanto a 25 de Dezembro, foi a data do Natal “fixada pelo imperador Constantino, porque nesse dia era celebrada a grande festa solar em Roma”, explica Ramón Teja, professor emérito de História Antiga da Universidade de Cantábria (Espanha). Assim, o imperador que transformou o cristianismo na religião de Roma, e que governou entre 306 e 337, identificava de alguma maneira sua figura com o divino, aproveitando o antigo festival do Dia do Nascimento do Sol Invicto. “Foi uma fusão do culto solar com o culto cristão”, afirma Teja.
Como não existe nenhuma informação concreta sobre a data de nascimento de Jesus, passou a ficar assumida por esta, 25 de Dezembro. Segundo texto de Kristin Romey na National Geographic, “a Igreja da Natividade, em Belém, é o templo cristão mais antigo ainda em uso, razão pela qual muitos especialistas acreditam que Jesus de Nazaré tenha nascido em Belém”. O relato da manjedoura e dos pastores aparece em S. Lucas; os Reis Magos, o massacre dos inocentes e a fuga para o Egipto, em S. Mateus.

Então, qual foi o papel dos Reis Magos?

O relato da visita dos magos com os seus presentes – um momento conhecido como Epifania – só surge no Evangelho de S. Mateus. A imensa maioria dos historiadores considera que Gaspar, Baltazar e Belchior têm uma função muito importante na tradição cristã porque, como explica Teja, “os reis que visitam [o Menino Jesus] são pagãos, não judeus, e são os primeiros que o reconhecem como um descendente da linhagem de David, como rei e como Deus”. Quase que a confirmar tal, os cristãos do Oriente continuam a comemorar o Natal a 6 e 7 de Janeiro. Isso tem a ver com as diferenças entre o calendário juliano e o gregoriano, mas também com o facto de que o Oriente manteve, durante séculos, a Epifania como o momento-chave desta festividade.

Mas e o que tem o Pai Natal a ver com tudo isto?

A viagem do Pai Natal ou Santa Claus até ao nosso Natal é longa e tortuosa. Os mais radicais entre os protestantes, os puritanos, proibiram o Natal porque consideravam que era uma festa que se estava a “paganizar”. Além disso, o protestantismo era contra a representação de figuras sagradas, o que não se encaixava muito nas tradições natalícias. O Parlamento britânico proibiu o Natal em 1644, restaurando-o apenas em 1660.

Os puritanos foram os primeiros colonos a chegar à América do Norte e levaram consigo aqueles costumes: em Boston, também proibiram as festividades entre 1659 e 1681. Pouco a pouco, contudo, o Natal foi renascendo no Novo Mundo, embora os protestantes tenham encontrado o seu próprio caminho para o diferenciar do culto católico. Foi assim que se lembraram de um velho santo, São Nicolau. “Santa Claus é uma figura muito cristã”, explica Diarmaid N. J. MacCulloch, professor de História da Igreja na Saint Cross College, de Oxford. “O nome é uma tradução holandesa de São Nicolau. Outra coisa é que tenha existido de fato: era um santo de Mira, na actual Turquia, e sua lenda incluía a história de que ressuscitou três crianças assassinadas – daí a sua ligação com a infância.” A importância cultural que os EUA adquiriram nas nossas sociedades fez o resto: Pai Natal começou a “colonizar” as festas durante o século XX. O grande antropólogo francês Claude Lévi-Strauss escreveu um pequeno ensaio sobre esse processo: O Suplício do Papai Noel (Cosac Naify). Segundo a sua teoria, a chave não era o prestígio dos EUA, e sim “a função prática dos ritos de iniciação” – neste caso, ensinar que as boas acções têm recompensas, presentes em troca do bom comportamento.

A árvore de Natal é também uma invenção americana?

O pinheiro de Natal também empreendeu uma estranha viagem de ida e volta da Europa aos EUA, mas não é, de todo, uma invenção americana. Ao contrário: como Santa Claus, é uma exportação. Nesse caso, como acontece com os solstícios, o culto às árvores perde-se nas profundezas das nossas tradições culturais e religiosas. Mas, como explica o professor MacCulloch, “a árvore de Natal é uma tradição mais cristã do que as pessoas pensam”. “Todas as religiões utilizam as árvores como símbolos e elas são um elemento essencial da história da Génese. As primeiras árvores de Natal decoradas que conhecemos são da Alemanha do século XVI, na época da Reforma. O próprio Martinho Lutero incentivou esse costume”, adianta o professor de Oxford. Mais uma vez, temos uma tradição relacionada com o protestantismo – a árvore de Natal evita as representações de figuras sagradas – cruza o Atlântico e volta transformada em símbolo universal. Na Península Ibérica, convive pacificamente com a representação máxima do nosso Natal: os presépios.

E, por último, quando começámos a montar os presépios?

O primeiro presépio aparece numa lenda: na noite de 24 de Dezembro de 1223, São Francisco de Assis organiza um presépio vivo numa gruta da cidade italiana de Greccio, e a figura do menino acaba por se transformar no verdadeiro Jesus. Esse milagre foi plasmado por Giotto no final do século XIII num dos frescos mais famosos da história da arte, que pode ser visto na Basílica de São Francisco de Assis.
Os presépios são um fenómeno universal, indissociável da cultura ibérica. O presépio mais antigo da Península está na Igreja de La Sang de Palma de Mallorca, datado de 1480, obra dos irmãos Alamanno. De Múrcia até Nápoles, passando por Barcelona e por Lisboa ou Porto, os presépios ocupam um espaço enorme no nosso imaginário colectivo. Nas ruas da cidade histórica de Nápoles, podemos comprar figuras de Berlusconi e Maradona, santificadas, em certa medida, através de sua conversão em barro, e nos mercados da Catalunha os famosos caganer – que provêm da Idade Média e simbolizam a fertilização da terra – encarnam nas personagens da temporada. Mais uma vez, o celestial e o terrenal fundem-se em festas que resumem uma parte importante do longo e inesgotável caminho da relação humana com o divino. E deixemos de fora Scrooge (personagem de Um Conto de Natal, de Charles Dickens) e os fantasmas dos Natais presentes, passados e futuros, e as luzes, e pensemos no verdadeiramente essencial: o Natal não está nos embrulhos, mas na família, na amizade, na paz e no amor fraterno.

Feliz Natal!

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